sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Notre musique




Só agora nos últimos dias eu consegui tempo para ouvir alguns álbuns que vinha coletando desde meados deste ano, mas que só conseguia ouvir uma ou outra música.
Acho que dá tempo ainda né!
1. Ben Clock - One
O DJ alemão, no seu primeiro álbum, conseguiu unir violência e experimentalismo, arrepios de frio e arrepios de emoção. Destaque para a esquizofrênica "Init two".

2. Melody Gardot - My one and only thrill
Linda e com uma voz de doçura impressionante, me fez lembrar Julie London em vários momentos. Impactado com a melancólica "Your heart is as black as night"


sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

na cidade havia três rios. o primeiro se chamava turarassú, nome indígena, joaquim não lembrava o significado. o segundo se chamava rio das margaridas e ninguém se atrevia a dizer que morava beirando das margaridas, todos diziam que moravam beirando o rio das margaridas. o terceiro se chamava luzias e só joana, a gaga, morava perto dele, até hoje ninguém sabe o porquê. para um forasteiro era difícil definir qual rio era o primeiro qual era o segundo qual era o terceiro rio da cidade. podia-se chegar de qualquer direção, a rosa dos ventos era generosa com o lugar. dia de domingo era dia de se banhar nos rios, ver a marolinha carinhosa bater nos outros pés.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Morte, homem, é só a morte


sempre tento adiar o momento de chegada de certas sensações desconfortáveis, talvez muito desconfortáveis, indesejáveis, sim, indesejáveis.
como essa sensação estranhíssima de "vazio pictorial/pictórico/imagético/babaquice"...Não escrevo isto como um alguém que sofre um bloqueio, uma crise, do tipo existencial ou psicótica (como diriam Schopenhauer, Foucault, Platão e minha mãe: quem soy jo?) mas um alguém que sente (ai meu amor, pungentementementementemente) uma total ausência de objetos que me arrebatem, me tirem o sono ou me deixem pensativo por uns bons longos dias. Porque sempre digo isto e talvez seja um grande defeito meu (apesar de minha cota de defeitos já ter sido ultrapassada há muito tempo): sou apaixonado por coisas. Coisas sim, objetos, imagens, pics do Google, meu mundo é um aglomerado nebuloso de imagens. Flusser que não me passe a mão na cabeça quando eu estiver no inferno, mas não sou textólatra e ele há de me compreender. Mas o grande problema é que há tempos não acho uma imagem definitiva (dentre todas as imagens definitivas que aparecem em explosões nas nossas casas todos os dias, sem misericórdia misericórida meu bom Deus). Será então que elas estão todas aí, me cercando, batendo à minha porta? Será que vejo-as, como-as, abraço-as e a qualidade de meteoritos flamejantes a incontáveis quilômetros por hora, inerente a elas, é só uma coisa latente, guardada em todas as suas possibilidades e eu ainda seja muito jovem (ah! La jeunesse!) e incompetente para enxergar bem diante do meu nariz?...
Pois bem, há uns dias atrás terminei a leitura arrastaaaaaada de O sol se põe em São Paulo, do Bernardo Carvalho e nada.
Não posso nem falar de cinema... Minto, e minto descaradamente. Assisti a um curta extremamente criativo chamado Superbarroco, ou melhor, mega surpreendente, revolucionário e du carálio (onde foi parar meu tesão?). Mas ele morreu logo em seguida.

Aliás falta-me fôlego para minhas digressions

Tudo morrendo, eu hein...
(Fotomontagem de Bernard Faucon, Le banquet)

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Festival Panorama de Dança 2009


Chegando mais um Festival Panorama de Dança!

As apostas são os espetáculos da Quasar (sempre!) e o espetáculo de Gilles Jobin, Black Swan.

Performances, espetáculos gratuitos e mais uma vez o "Sentido > Centro" com instalações e espetáculos na rua.


Projeção digital

Fonte: http://www.contracampo.com.br
PARA ASSINAR A PETIÇÃO > http://www.gopetition.com/online/31415.html


A projeção digital chegou ao Brasil com a missão de democratizar o acesso aos filmes e libertar os distribuidores da dependência de cópias em 35 milímetros, cuja confecção e transporte são notoriamente caros. A instalação de projetores digitais permitiria ao público assistir a títulos que dificilmente seriam lançados nas condições tradicionais e ainda ofereceria condições para que espectadores situados longe do eixo Rio-São Paulo (onde se concentram quase 50% das salas de cinema do país) tivessem acesso aos mesmos títulos simultaneamente.

O que estamos vendo, no entanto, é uma total falta de respeito ao espectador no que se refere à exibição do filme propriamente dita. As razões são basicamente duas: projeções incapazes de reproduzir fielmente os padrões de cor e textura da obra e/ou projeções incapazes de exibir os filmes no formato em que foram originalmente concebidos. Sem falar no som, que muitas vezes ganha uma reprodução abafada, limitada ao canal central, muito diferente de seu desenho original.

A adoção da projeção digital pelos dois maiores festivais internacionais do Brasil (o Festival do Rio e a Mostra de São Paulo) e por outros festivais do país, infelizmente, não respeitou o que seriam critérios mínimos de qualidade de projeção de filmes em cinema – algo que é observado com atenção em qualquer festival internacional que se preze. Trata-se de uma situação particularmente alarmante tendo em vista o papel de formadores de plateia que esses eventos desempenham.

Sucessivamente, temos visto um autêntico massacre ao trabalho de cineastas, fotógrafos, diretores de arte, figurinistas, técnicos de som e até mesmo de atores. Apenas para citar um exemplo: Les herbes folles, o novo filme de Alain Resnais, originalmente concebido no formato 2:35:1, foi exibido no Festival do Rio, com projeção digital, no formato 1:78. Isso representou o corte da imagem em suas extremidades, resultando em enquadramentos arruinados, movimentos de câmera deformados e rostos dos atores cortados. Um pouco como se A santa ceia, de Leonardo Da Vinci, tivesse suas pontas decepadas, deixando alguns discípulos de Jesus fora de campo – e da história. Para completar o desrespeito, não há qualquer aviso em relação às condições de exibição e o preço cobrado pelo ingresso não sofre qualquer alteração.

Não nos cabe, aqui, pregar a “volta ao 35mm” nem defender determinada resolução mínima para a projeção digital. Sabemos que, se respeitados determinados critérios técnicos – ou seja, se a empresa responsável pela projeção digital receber do distribuidor o master no formato adequado, se o processo de encodamento for feito corretamente, e se os ajustes necessários para a exibição de cada filme forem realizados cuidadosamente –, a projeção digital pode ser uma experiência perfeitamente satisfatória para o espectador.

Não é isso, porém, que tem ocorrido. Exibidores, distribuidores e os fornecedores do serviço da projeção digital são responsáveis pela má qualidade da projeção e coniventes com esse lamentável descaso geral, que tem deixado críticos e amantes de cinema indignados. É um desrespeito ao cinema e aos seus criadores, mas, sobretudo, ao espectador e consumidor final, que saiu de casa e pagou ingresso para ver um filme.

A situação chegou a um ponto intolerável. Pedimos a todos os profissionais envolvidos com a projeção digital que tomem providências para que tais deformações não se repitam.

sábado, 3 de outubro de 2009

molly me grita "sim", esbraveja um "sim", destorce um "sim", vira os olhos para um "sim", engatinha feito bicho em um "sim", cospe milhares de "sim" e sai do palco iluminada...



Festival do Rio 2009

Meu festival deste ano está muito pobrzinho. Só tive tempo de ver 3 filmes, mas nenhuma grande surpresa até agora aconteceu. Vamos lá então:
Ricky, de François Ozon (França)


Esta talvez tenha sido a minha única surpresa do festival, aliás, acho que para todas as pessoas presentes na sessão.
O filme começa com um tom super naturalista, bem típico em alguns filmes da atualidade. Uma mulher vive sozinha com sua filha em um apartamento no subúrbio de Paris e trabalha numa fábrica de produtos químicos. O relacionamento entre elas parece equilibrado, apesar da menina mostrar doses altas de melancolia e amadurecimento precoce. Tudo vai bem até a mulher conhecer o novo empregado da fábrica. Eles tem uma rapidinha, vão morar juntos, a menina não aceita muito bem a presença do cara em casa, até aí tudo bem. Então eles tem um filho juntos. Até aí tudo bem também. Começam os problemas no relacionamento dos dois. Até aí tudo bem também. Então hematomas começam a surgir nas costas do bebezinho.
Do que achávamos ser marcas de um possível espancamento da criança pelo pai, vemos o bebê criar asas e voar pelo seu quarto, dando cabeçadas nos móveis e até por um hipermercado, para o delírio das pessoas.
Ozon, até então, vinha com uma cinematografia com um toque muito sofisticado. Vale lembrar do excelente "5x2" e de "Oito mulheres". Com este novo filme, ele parece ter desejado se reinventar de forma extremada, criando dois filmes diferentes dentro de um, pois a partir do momento que o bebê está com suas asas totalmente desenvolvidas, o filme ganha luz, cor, mas ele consegue não deixar o filme cair no clichê do fantástico ou simplesmente sobrenatural. É um ato artístico de extrema coragem fazer um filme como "Ricky" e fugir da parábola filosófica e jogar com o espectador da forma que ele faz.
Discordo de quem já escreveu que tudo aquilo pode ser fruto da imaginação da mãe ou da filha, o filme não me deu esta opção. Bem, apesar de certos tropeços, a película vale a pena de ser vista.


Storm, de Hans-Christian Schmid (Alemanha, Holanda, Dinamarca)

Hannah é promotora do tribunal de Haia e lidera um processo contra um cara que mandava estrupar e matar cidadãos bósnios muçulmanos. Uma testemunha, depois de acusada de perjúrio, se suicida e Hannah vai atrás da família do cara para saber o que tem por trás desta história toda. Envolta em joguetes políticos até a cabeça, ela conhece Mira, a irmã da testemunha que havia se matado e descobre histórias mais podres sobre a guerra na Sérvia, que poderiam incriminar o general na hora. Mas Hannah descobre que tem de lidar com memória, traumas alheios e a verdade nem sempre pode vir à tona quando o assunto é justiça.
Bom filme, correto e bem interessante como esclarecedor do conflito que assola o leste europeu até hoje. Em certos momentos ele descamba para quase um manifesto feminista, mas ainda assim é cinema!
Coco, de Gad Elmaleh (França)
Meu Deus. Só digo isso: Não assistam. Um dos piores filmes que já vi. Arranca as mesmas risadas que o Zorra Total me tira.
O único mérito do filme é o fato de um imigrante marroquino na França ser um dos homens mais ricos do mundo, coisa impagável de se ver. E só. Chega. Ponto final...

domingo, 13 de setembro de 2009

Les solitaires intempestifs


"Devemos preservar os espaços da criação, os espaços do luxo do pensamento, os espaços do superficial, os espaços da invenção do que ainda não existe, os espaços da interrogação de ontem, os espaços do questionamento. Eles são nossa bela propriedade, nossas casas, de todos e de cada um. As impressionantes construções de certeza definitiva, não nos faltam, paremos de construí-las. A comemoração também pode ser viva, a lembrança também pode ser feliz ou terrível. Temos o dever de fazer barulho. Nós devemos conservar no centro de nosso mundo o espaço de nossas dúvidas, o espaço de nossa fragilidade, de nossas dificuldades em dizer e em ouvir. Devemos ficar hesitantes, e resistir assim na indecisão aos discusos violentos ou amáveis dos indiscutíveias profissionais de lógicas econômicas, os conselheiros pagantes, utilitários imediatos, os hábeis e os espertos, nossos consensuais senhores..."


Do luxo e da impotência _ Jean-Luc Lagarce

sábado, 12 de setembro de 2009

FIK A DIK


Literatura
49 contos de Tennessee Williams
Companhia das Letras








Teatro
Sonho de Outono, texto de Jon Fosse
Centro Cultural dos Correios
de quinta a domingo, 19h
R$ 15,00 (com meia entrada)








Cinema
Lugares Comuns
direção de Adolfo Aristarain








Música
Little dragon
Álbum: Machine Dreams
Selo Love-Da-Records






















Cineclube Cinética

Dia 13 de Setembro, domingo, marcará a estréia da Sessão Cinética. Uma vez ao mês, a Cinética levará dois filmes à tela do cinema do Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro, abrindo mais um espaço de reflexão e apreciação de filmes fora do circuito exibidor tradicional. As sessões são duplas e começam às 16hs, e a curadoria tem a intenção de programar obras importantes de circulação restrita nas salas brasileiras, respeitando ao máximo as características originais de projeção de cada filme. Além disso, críticos da revista produzirão textos especiais para as sessões – que serão distribuídos no local, e publicados posteriormente aqui – e mediarão um debate após a exibição do segundo filme da noite.
Para a sessão de inauguração, a Cinética programou os filmes Ninotchka, de Ernst Lubitsch; e Ondas do Destino, de Lars Von Trier. Ambos os filmes serão exibidos em cópias 35mm, nas janelas corretas de exibição, com legendas em português. A sessão de Ninotchka custará R$10,00 (R$5,00 a meia-entrada) e a de Ondas do Destino terá entrada gratuita. Estão todos convidados. A próxima sessão será dia 11 de Outubro, e os filmes serão anunciados em breve.

Sessão Cinética -
Domingo, 13/09
16hs
Ninotchka, de Ernst Lubitsch (EUA, 1939),
110 minutos

18hs
Ondas do Destino (Breaking the Waves), de Lars Von Trier (Dinamarca, 1996),
159 minutos.

Instituto Moreira Salles
Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea
cep: 22451-040.
Rio de Janeiro - rj
Tel.: (21) 3284-7400;
Fax: (21) 2239-5559
www.ims.com.br
Ambiente WiFi
Acesso a portadores de necessidades especiais
Estacionamento gratuito no local
Capacidade da sala: 113 lugares

Fonte: www.revistacinetica.com.br

Prenez soin de vous


Eu pensava que o orkut e o facebook (deixo para o segundo plano o renegado twitter) fossem o máximo que a doce loucura humana pudesse engendrar para expor nossas intimidades, mas em tempos de casas de vidro, ainda me surpreendo com certas coisas que tenho descoberto. Trocando em miúdos...

Vi recentemente em São Paulo a tão esperada (ao menos por mim) exposição "Cuide de você", da artista plástica, videomaker, lunática Sophie Calle. Esta moça é aquela que na última FLIP quebrou o pau da forma mais sofisticada possível com o ex-namorado, o escritor Gregoire Bouillier, lavando a roupa suja do relacionamento que eles tiveram há alguns anos atrás.

E pelo visto esse namoro mal sucedido ainda vai dar muito pano pra manga, pois, apenas relembrando, o livro mais recente do moço se chama "O convidado surpresa", que relata como ele conheceu Sophie e também todo o dramalhão que ele estava vivendo com o rompimento do relacionamento anterior ao que teve com Calle.

Traduzindo mais uma vez...

O sujeito (sujeitinho) terminou o namoro mandando apenas um email, que pelo que parece, deve ter deixado Sophie estarrecida. Há algum tempo venho querendo lhe escrever e responder ao seu último email. Ao mesmo tempo, me pareceria melhor conversar com você e dizer o que tenho a dizer de viva voz. Mas pelo menos será por escrito (...) Aconteça o que acontecer, saiba que nunca deixarei de amar você da maneira que sempre amei desde que nos conhecemos, e esse amor se estenderá em mim e , tenho certeza, jamais morrerá. Mas hoje, seria a pior das farsas manter uma situação que você sabe tão bem quanto eu ter se tornado irremediável, mesmo com todo o amor que sentimos um pelo outro. E é justamente esse amor que obriga a ser honesto com você mais uma vez, como última prova do que houve entre nós e que permancerá único. Gostaria que as coisas tivessem tomado um rumo diferente. Cuide de você.

Sophie então convidou diversas profissionais de várias áreas para "interpretar" este email. Foram atrizes (Jeanne Moreau, Victoria Abril, Maria de Medeiros), cantoras (Feist, Peaches, Miss Kittin), tradutoras, escritoras, uma especialista em direitos da mulher da ONU, uma delegada de polícia, uma criminologista, uma pesquisadora de lexicometria, uma consultora de etiqueta, designers, uma intérprete do Talmude (pasmem!), uma tradutora de linguagem SMS (pasmem! [2]) entre tantas outras mulheres. Não preciso dizer que os resultados das interpretações foram os mais loucos possíveis.

O que eu mais gostei foi o de uma cantora de ópera que não lembro o nome. Ela transformou a carta em música erudita e foi cantando na frente de um cenário extremamente kitsch, dando um significado totalmente controverso à carta de rompimento.

Agora eu me recordo de já ter visto uma obra dessa artista no Oi Futuro chamada "No sex last night", na qual ela convida o então namorado, Greg Shephard, a viajar de carro de Nova Iorque à Califórnia e fazer um filme. Eles usam duas câmeras separadas e nos mostram ao fim "tudo o que eram incapazes de dizer um ao outro".

Pesquisando mais sobre ela também descubro que a moça é conhecida no mundo da arte por ter uma obra que despreza as fronteiras entre ficção e realidade e essencialmente literárias. O que diferencia muitos de meus trabalhos é o fato de que eles são, também, minha vida. Eles aconteceram. Isso me distingue e faz com que as pessoas gostem ou desgostem intensamente do que faço. É por isso, também, que tenho um público além do mundo da arte. Ela fas parte de um grupo de artistas que os teóricos tem fetichizado por criarem obras de "ficção biográficas" ou "autoficção". Conceitos fluidos à parte, Sophie acaba nos mostrando, através de uma obra tão "voyeurística de si mesma" e com diálogo intenso com o público, as complexas maquinações do desejo.

sábado, 22 de agosto de 2009

Eu não quero dormir sozinho








Acabei de ver o último filme lançado no Brasil do meu diretor predileto, Tsai Ming-Liang. E ele vai continuar ocupando esse posto durante um bom tempo.
Dono de uma cinematografia extremamente coerente, Tsai já declarou em uma entrevista que vai continuar fazendo os "mesmos" filmes, sobre os males da sociedade contemporânea no coração dos seres humanos, uma espécie de Antonioni do oriente. Mas em cada filme novo que ele nos dá, há uma ideia de superação, de evolução dos seres vivos, deixando seus filmes quase sequenciais. Pode-se até dizer que é preciso ver todas as suas produções, de longas a curtas, para poder entender melhor do que se trata o último filme dele.
Se em "O sabor da melancia", toda possibilidade de afeto foi jogada no ralo pela cena final do filme, em "Eu não quero dormir sozinho" os personagens, uma vez já rompida a barreira do corpo para se demonstrar carinho por alguém, eles até mesmo sentem ciúme e a complexidade das relações se expande.
O que foi a cena de sexo não consumado por causa da fumaça tóxica na cidade? Meu Deus!!
Não vou mais falar muito. Baixem esse filme ou quando tiverem a oportunidade de assistirem na telona, o façam!


sexta-feira, 21 de agosto de 2009

ouvi

Duas recentes descobertas musicais:
1. Gabo Ferro

Descobri o moço argentino no ótimo blog do Zeca Camargo, isso mesmo, o apresentador global. Foi amor à primeira audição:

http://www.youtube.com/watch?v=lGYJdv1ta-E


2. Filthy Dukes


O trio de electro daí da foto de não sei que país também me deixou, digamos, apoplético. Se um treco desses toca em alguma dessas festas xoxas que tem rolado aqui no Rio, eu acho que serei forçado a sair de mim.

http://www.youtube.com/watch?v=dPD0jB53Vbo

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

olha em frente Tarsila
contempla os sorrisos do teu povo
dança sorrateira encostada na parede das nossas salas
sai de fininho como quem não viu nada

é né, né mesmo?

Música é música. (dãa!!) Mas música também é letra.
Parece infantil e talvez não acrescente nada a quem for ler esta postagem, mas ajudando meu irmão em um dever de casa de interpretação de texto, acabamos discutindo sobre o que pode nos trazer felicidade e ele disse que fica muito feliz quando consegue passar de uma fase no video game.
Enfim, lá vai uma letra de música que me deixa sempre radiante, apesar de ser muito triste. Delicate, do Damien Rice, do álbum "O", assaz delicada (sempre quis usar esta palavra).


We might kiss when we are alone
nobody's watching
We might take it home
We might make out when nobody's there
It's not that we're scared
It's just that it's delicate

So why do you fill my sorrow
With the words you've borrowed
From the only place you've known?
And why do you sing Hallelujah
If it means nothing to you?
Why do you sing with me at all?

We might live like never before
When there's nothing to give
Well how can we ask for more
We might make love in some sacred place
The look on your face is delicate

So why do you fill my sorrow
With the words you've borrowed
From the only place you've known?
And why do you sing Hallelujah
If it means nothing to you?
Why do you sing with me at all?

So why do you fill my sorrow
With the words you've borrowed
From the only place you've known?
And why do you sing Hallelujah
If it means nothing to you?
Why do you sing with me at all?



XV Rio Cello Encounter

Sei que estou atrasado, mas ainda dá tempo de conferir muita coisa boa. Lá vai a programação restante:

Quinta, dia 20
Rachel Lee, violino Diego Cardoso, violoncelo Gerald Robbins, piano STRAVINSKI: Suíte Italiana HAYDN: Trio em Sol menor “Cigano” FRANCK: Sonata em Lá Maior
CELLO DANCE
Sala Cecília Meireles - 17hEnd: Largo da Lapa n.47, Lapa, Rio de Janeiro
Qui - 20 de Agosto
Haroutune Bedelian, violino Lars Hoefs e Minna Rose Chung*, violoncelos Daniel Levin, piano Focus Cia de Dança Ao vivo coreografia: Alex Neoral Interpret., Um a Um e Strong Strings coreografias: Alex NeoralJ.S. BACH: Contrapunctus I de A Arte da Fuga, Adágio da Sonata para violoncelo e piano n.º 2 em Ré Maior BWV 1028 Prelúdio da Suíte para violoncelo solo nº 6 em ré Maior BWV 1012 Andante da Sonata para violoncelo e piano nº1 em Sol Maior BWV 1027 Andante da Sonata emº 2 em Ré Maior BWV 1028 Sarabanda da Suíte nº 6 em Ré Maior Chaconne para violino OBRAS DE NIRVANA: Lithiium Smells like teen spirits Something in the way Come as you are
Teatro Nelson Rodrigues - 19:30hAv. República Chile, 230 – Centro (21) 2262-8152
Qui - 20 de Agosto
“Darwin e Chopin” Homenagem aos 200 anos do cientista britânico, cuja esposa era pianista e foi aluna de Chopin. Darwin e ela viveram no Rio de Janeiro por 6 meses durante suas viagens de pesquisa. Diego Cardoso, violoncelo Gerald Robbins, Evan Metral, Luis Gustavo Torres, piano Obras de Chopin, Schumann e Alkan
Sala Cecília Meireles - 17hEnd: Largo da Lapa n.47, Lapa, Rio de Janeiro
Qui - 20 de Agosto
Trio Montana David Haughey, violoncelo Natalie Padilla, violino Chelsea Padilla, piano Mendelssohn: Trio em Ré Maior o. 49 Bluegrass Gigas irlandesas
Espaço SESC - 21hRua Domingos Ferreira, 160- Copacabana(21) 2548-1088
Qui - 20 de Agosto
Armen Ksajikian, violoncelo Guilherme Bernstein e Vantoil de Souza Junior, regentes Orquestra Sinfônica de Barra Mansa VERDI: Abertura “La Forza Del Destino” DVORAK: Concerto para Violoncelo e Orquestra TCHAIKOVSKI: Suíte do balé “A Bela Adormecida” VILLA-LOBOS: Choros nº 6
Conservatório de Tatuí - Concha Acústica - 20hRua São Bento, 415 - Centro- Tatuí/SP - RJ(15) 3251-4573
Sex - 21 de Agosto
Armen Ksajikian, violoncelo Miriam Braga, piano Danças do Mundo CELLO DANCE
Conservatório de Tatuí - Concha Acústica - 13hRua São Bento, 415 - Centro- Tatuí/SP - RJ(15) 3251-4573

Sex - 21 de Agosto
Estação Siqueira Campos Projeto MoBe coreografia: Bettina Dalcanalle e Mônica Barbosa
Metro Rio- 12:30h
Sex - 21 de Agosto
Haroutune Bedelian, violino Diego Cardoso e Minna Rose Chung*, violoncelos Evan Metral piano Focus Cia de Dança Ao vivo coreografias: Alex Neoral J.S. BACH: Contrapunctus I de A Arte da Fuga, Adágio da Sonata para violoncelo e piano n.º 2 em Ré Maior BWV 1028 Prelúdio da Suíte para violoncelo solo nº 6 em ré Maior BWV 1012 Andante da Sonata para violoncelo e piano nº1 em Sol Maior BWV 1027 Andante da Sonata emº 2 em Ré Maior BWV 1028 Sarabanda da Suíte nº 6 em Ré Maior Chaconne para violino NIRVANA: Lithiium Smells like teen spirits Something in the way Come as you are
CAIXA Cultural - Teatro Nelson Rodrigues – 19h30Av. República Chile, 230 – Centro- Rio de Janeiro– RJ (21) 2262-8152
Sex - 21 de Agosto
CAIXA CULTURAL CELLO DANCE. Haroutune Bedelian - violino, Diego Cardoso, Lars Hoefs e Minna Chung - violoncelos, Evan Metral - piano. Focus Cia de Dança. Obras de Bach e Nirvana.
Teatro Nelson Rodrigues - 19:30hAv. República Chile, 230 – Centro(21) 2262-8152
Sex - 21 de Agosto
CELLO, POP, JAZZ E MPB. Jan Dumée - violão e guitarra, Victor Biglione - violão e guitarra, Mauro Senise - sax e flauta, Gilson Perannzzetta - piano, Ensemble de Violoncelos. Obras de Jan Dumée, Gilson Peranzzetta, entre outros.
Espaço SESC - 21hRua Domingos Ferreira, 160- Copacabana(21) 2548-1088

Sab - 22 de Agosto
Ednéia de Oliveira - mezzo-soprano, Armen Ksajikian - violoncelo, Guilherme Bernstein e Vantoil de Souza Junior - regentes. Villa-Lobos - Bachianas Brasileiras nº 4, Dvorak - Concerto para Violoncelo e Orquestra, Bizet - Prelúdio e árias da”Carmen”, Villa-Lobos - Choros nº6
Espaço Tom Jobim - 12hRua Jardim Botânico, 1008- Jardim Botânico (21) 22747012
Sab - 22 de Agosto
Diego Cardoso, Lars Hoefs e Minna Rose Chung*, violoncelos Diego Fortes, piano Cecelo Frony, guitarra Jan Dumée, guitarra/violão Adriana Salomão com Anotações coreografia: Adriana Salomão JAN DUMÉE: Steal the Night Bettina Dalcanale com Atitude coreografia: Mônica Barbosa CECELO FRONY: Atitude Mônica Barbosa com Um vôo aterrissado coreografia: Mônica Barbosa VILLA LOBOS: O Uirapuru Focus Cia de Dança com Uma a Um coreografia: Alex Neoral J.S. BACH: Contrapunctus I de A Arte da Fuga, Adágio da Sonata para violoncelo e piano n.º 2 em Ré Maior BWV 1028 Prelúdio da Suíte para violoncelo solo nº 6 em ré Maior BWV 1012 Andante da Sonata para violoncelo e piano nº1 em Sol Maior BWV 1027 Andante da Sonata emº 2 em Ré Maior BWV 1028 Sarabanda da Suíte nº 6 em Ré Maior Chaconne para violino Cia Nós da Dança com Cirandas Cirandinhas coreografia: Regina Sauer VILLA-LOBOS Carneirinho Carneirão Passa-passa gavião Nesta rua nesta rua Adeus Bela Morena Terezinha de Jesus e O Cravo
Teatro Nelson Rodrigues - 19:30hAv. República Chile, 230 - Centro(21) 2262-8152
Sab - 22 de Agosto
CELLO ROMÂNTICO Rudá Alves, violino Diego Felipe, violoncelo Armen Ksajikian, violoncelo Evan Metral e Luis Gustavo Torres, pianoSCHUMANN – Adágio e allegro para violoncelo e piano op. 70 RACHMANINOV - Sonata para violoncelo e pianoFAURÉ - Elegia para cello e pianoRACHMANINOV - Trio Elegíaco (1892)
Espaço SESC - 21hRua Domingos Ferreira, 160- Copacabana(21) 2548-1088

Dom - 23 de Agosto
OS 8 VIOLONCELOS DE TURIM Alberto Capellaro, Claudia Ravetto, Fabrice De Donatis, Heike Schuch, , Manuel Zigante, Massimo Barrera, Paola Perardi, Umberto Clerici, violoncelos SCOTT JOPLIN: “Scott Joplin’s New Rag” - Allegro ModeratoGABRIEL FAURÈ: Elegiè op. 24 – solista Umberto Clerici TOM WAITS: Little Drop of Poison (para 5 cellos) DAVID. POPPER: Polonaise e Concert op. 14 (para 4 cellos) GIUSEPPE VERDI: Sinfonia dal “Nabucco” – arr. de A. Murgia GEORGES SOLLIMA: "Violoncelles Vibrez!" - solistas Paola Perardi, Umberto ClericiL. E. BACALOV "Il postino" arr. de Alessio Murgia NICOLA PIOVANI: "La vita è bella" arr. de A. MurgiaELMER BERNSTEIN: "I magnifici sette" arr. de A. Murgia
Igreja da Candelária - 16hPraça Pio X, Centro- RJ (21) 2233-2324
Dom - 23 de Agosto
Quarteto de Violoncelos e Quarteto de Cordas Daniel Levin e Diego Fortes, piano Silvio Sanuto, percussão Bruce Henri, contrabaixo Paula Águas com Improviso coreografia: Paula Aguas Lavínia Bizzotto com Na dobra do tempo coreografia: Lavínia Bizzoto e Juliana Morais BRUCE HENRI: Na Dobra do Tempo Focus Cia de Dança com Strong Strings coreografia: Alex Neoral NIRVANA: Lithiium Smells like teen spirits Something in the way Come as you are Cia Nós da Dança com Cirandas Cirandinha coreografia: Regina Sauer VILLA-LOBOS Carneirinho Carneirão Passa-passa gavião Nesta rua nesta rua Adeus Bela Morena Terezinha de Jesus e O Cravo
Teatro Nelson Rodrigues - 19:30hAv. República Chile, 230 – Centro(21) 2262-8152
Dom - 23 de Agosto
CELLO JAM. Diversos artistas. Programa anunciado na hora.
Espaço SESC - 20hRua Domingos Ferreira, 160- Copacabana(21) 2548-1088

Seg - 24 de Agosto
VIOLONCELADA - ENCERRAMENTO DO RICE 2009. Rachel Lee - violino, Trio Montana, Os 8 violoncelos de Turim, Ensemble de Violoncelos, Pianistas e solistas do Rice, Bailarinos do Cello Dance. Obras de Villa-Lobos, Chopin, Gershwin, Jobim, Bizet.
Sala Cecília Meireles - 19hEnd: Largo da Lapa n.47, Lapa, Rio de Janeiro

Dom - 30 de Agosto
Cia Brasileira de Danças Clássicas com Concerto para Cello coreografia: Jhean Allex In-pulso Cia de Dança com Da Capo coreografia: Jhean Allex Mariana Chew e Arthur Brandão com Carmen coreografia: Eloisa Menezes In-pulso Cia de Dança com Todas as Águas do mundo coreografia: Jhean Allex
BIZET:Habanera, da ópera “Carmen” para voz e quarteto de violoncelosJ.S. BACH: Suíte no. 1 BWV 1007 PrelúdioATREYU: This Flesh a tomb THE FLESHQUARTET: Innocent KOGI KONDO: Legend of Zelda Medley APOCALYPITICA: Conclusion METALLICA: Fade to Black
Conservatório de Tatuí - Concha Acústica - 20hRua São Bento, 415 - Centro- Tatuí/SP - RJ(15) 3251-4573

Café Lumière e para quê serve o cinema


Há uns dias atrás eu assisti (baixado mesmo, via torrent, fazer o que?) o instigante filme do diretor taiwanês Hou Hsiao-hsien, Café Luimère. Já havia assistido outros filmes dele em tela grande e na telinha, como Millenium Mabo, Três tempos e Flores de Xangai, todos experiências de cinema muito diferentes até então. Se em Millenium Mabo temos o casal problema percorrendo as boates de Taiwan, em Três tempos acompanhamos três histórias de amor que se passam em diferentes épocas e em Flores de Xangai entramos e saímos hipnotizados de bordéis chineses do final do século XIX, é difícil dizer qual o mote narrativo de Café Lumière. Hsiao-hsien é conhecido pelos seus planos-sequência enormes e sua busca em filmar o cotidiano com todos seus sons, gestos e luzes. Mas neste filme sobre o qual eu tento escrever ele leva sua estética ao máximo.

Sabemos apenas que a jovem do filme está grávida e quer ter o filho sozinha. Ela é escritora e pesquisa (em Tóquio?) sobre um compositor meio desconhecido. Um outro jovem, japonês, (o sempre fantástico Tadanobu Asano, que pode ser visto aualmente em O guerreiro Gengis Khan) gerencia um sebo e gosta de gravar os sons dos trens e dos transeuntes. E só. O resto é imersão, é atmosfera.



Em uma cena que me tirou o fôlego (sem precisar recorrer a tiroteios e sexo explícito) a jovem caminha falando com alguém pelo celular até a câmera continuar o seu percurso e ela sumir do plano e continuarmos ouvindo sua voz. Ela se perdeu na multidão? Sacanagem do diretor? Não. Percebemos então que ela está apenas esperando o sinal fechar, mas não a vemos mais pois uma pilastra se coloca bem na nossa frente. Em outra cena ela caminha com o japonês e para diante de uma loja. Os dois apontam para o alto e ela saca sua câmera e começa a fotografar o alto do prédio. Quando a câmera lentamente sobe e parece nos querer mostrar o que os deteve naquele ponto, vemos apenas janelas e a folhagem de uma árvore que provavelmente estava fazendo sombra para o câmera.


Hsiao-hsien nos mostra as luzes da manhã, faz seus personagens se perderam na multidão, acompanha com uma falsa passividade o passar dos trens nas inúmeras linhas que atravessam a cidade. É um cinema rigoroso, apesar de tudo, extremamente formal. O expectador precisa estabelecer uma relação cerebral com o filme apesar de tanta vida pulsar na frente dos seus olhos, sem muito discurso. Digo isto pois é necessário que se preste atenção a cada mudança de detalhes, a cada sombra, a cada gota de chuva. Há uma cena no filme que eu achei a melhor. Ela conversa com alguém que vai esperá-la numa estação de trem qualquer ou vai entrar no trem quando ela passar pela estação tal, pois ela diz que ficará sentada no primeiro vagão. Na cena seguinte ela está de pé no trem e ao chegar na estação ela titubeia, mas sai do vagão. Depois vemos do alto um rapaz parado, de pé, e os trens cruzando a cidade. É ele a tal pessoa que ela estava esperando? Ela siu do trem porque ele deu um bolo nela? Não, ela está apenas se sentindo mal e depois os dois caminham tranquilamente pela cidade...

Durante vários momentos eu tive a sensação de estar diante de uma série de quadros em slide show. Lembrei-me do cinema do Apichatpong Weerashetakul, da Chantal Akerman e do Carlos Reygadas, onde tudo está ali a favor do cinema, as luzes, os diálogos as respirações dos atores. Digo o cinema dos irmãos Lumière, que tinha como foco os operários que saíam das fábricas, o passo acelerado das pessoas na rua. Os jovens não são robotizados, mecânicos, como nos filmes do Tsai Ming-Liang, criando aquele ambiente pesado de solidão e falta de contato. Antes de mais nada, eles se emocionam com um livro infantil, tem pesadelos, comem com vontade e pedem o bife predileto para a mãe. Talvez o nome do filme venha daí, pois em nenhum momento há qualquer alusão a este tal café e talvez o cinema, o CINEMA, sirva para isto. Documentar o nada e transformá-lo em substância.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

"Onde agora? Quando agora? Quem agora? Sem me perguntar. Dizer eu. Sem pensar. Chamar isso de perguntas, hipóteses. Ir adiante, chaamr isso de ir, chamar isso de adiante. Pode ser que um dia, primeiro passo, vai, eu tenha ficado simplesmente ali, onde, em vez de sair, segundo um velho hábito, passar dia e noite tão longe de casa quanto possível, não era longe. Pode ter começado assim. Não me farei mais perguntas. Você só pensa em descansar, para agir melhor depois, ou sem segundas intenções, e eis que em pouco tempo já está na impossibilidade de nunca mais fazer nada. Pouco importa como isso se deu. Isso, dizer isso, sem saber o quê. Talvez não tenha feito mais que ratificar um velho fato consumado. Mas não fiz nada de fato. Parece que falo, não sou eu, de mim, não é de mim. São algumas generalizações para começar..."


O inominável - Samuel Beckett

Nan Goldin - Corpos, gêneros, marcas






"It is very political. First, it is about gender politics. It is about what it is to be male, what it is to be female, what are gender roles... Especially The Ballad of Sexual Dependency is very much about gender politics, before there was such a word, before they taught it at the university. A friend of mine said I was born with a feminist heart. I decided at the age of five that there was nothing my brothers can do and I cannot do. I grew up that way. It was not like an act of decision that I was going to make a piece about gender politics. I made this slideshow about my life, about my past life..."
Nan Goldin em entrevista para o site polonês fotoTAPETA http://fototapeta.art.pl/index.html








Medicina

Agir costuma ser foda. É incrível como tudo parece sair dos eixos a todo instante. Colocar um cigarro na boca é baixar vertiginosamente minha alegria. Eduardo parece sempre distante. Dois filmes vistos pela metade ontem à tarde, ando sem paciência para qualquer ficção. Hoje no trabalho consegui conversar por um instante com a Márcia, gente fina ela. Acho que é casada há oito anos. Oito. A empresa que arquiva as notas fiscais faliu. Um cara no ônibus entregou a mochila para uma menina segurar. Ela estava sentada. Ele estava em pé. Bonita a menina. O André me ligou para tomarmos um chope na sexta, mas eu não sei não, ele tá muito gordo. Já percebeu como ele tem mau hálito? Não acredito mesmo que aquela garota se estabacou da escada, coitada, deve estar toda arrebentada. Eduardo deve ter me esquecido. Meus cigarros acabaram e confesso que tenho preguiça de descer isso tudo para comprar mais. Vou parar com essa porra. Todo mundo morrendo e essa merda desse governo não deixando a gente se fuder com dignidade. O filme que eu estava vendo ontem era muito chato, não acontecia nada e aquela bosta daquela câmera parada, parece que o diretor tinha dormido. Viado. A Márcia tem tanta caspa sabe, fica com a camisa cheia de pontinhos brancos, muito nojento. Acho o marido dela um tesão. Se ele me olhasse eu dava pra ele na mesa do escritório mesmo, com todo mundo olhando. Meu sonho é trepar com todo mundo me vendo, me aplaudindo, se masturbando enquanto observam cada ponto avançado na minha buceta. Ai esse calor que não passa. A piranha da menina do ônibus só se ofereceu para segurar a bolsa porque estava secando o menino com os olhos quando ele entrou. Eu hein. Molequinho feio, sem graça, de óculos baratinho, um horror. Está na hora de trocar o papel de parede desse... Vi em duas revistas uns papéis lindos, não faço nem ideia do precinho. Acho que não deve ser tão caro. Aqui é pequeno também, não tem muito luxo, como a Isabel sempre fala com os caras. Sumiu, a Isabel. A cirurgia da minha avó é amanhã, preciso ligar para ela. Ser médico é uma coisinha escrota né. A velha com quase noventa anos e eles operando-a do baço. Porra, daqui a pouco vai morrer mesmo, essas coisas não fazem sentido. Eu nunca estudaria para ser médica. Acho que não tenho ninguém para salvar.

Cinema


Mostras de cinema no Rio imperdíveis!!!


No crepúsculo de Winnipeg - O cinema de Guy Maddin
Oportunidade ÚNICA de ver os filmes deste excêntrico diretor canadense, nunca exibidos no Brasil!
Criador de um universo extremamente onírico e cheio de bizarrices, seus filmes falam da morte, do tempo e do amor. Dica: A música mais triste do mundo, sab 22 e sab 29.

de 18 a 30 de agosto
CCBB/Rio
Sessões às 18h e 20h
R$6,00


quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Resposta à Worm / tornar-me meus próprios olhos


Habitante do Rio de Janeiro. Meu nome fala de um local já estabelecido, de um tempo dado pelas contingências. Os gomos da tangerina tem sempre uma pela muito fina e a acidez que sai dos alvéolos irrita meus olhos que por sua vez tem um espaço certo na parte superior da minha cabeça, anexada ao resto de meu corpo, nossa matéria que por capricho de minha mão se retorce toda em circunvoluções e meneios de negação. Ruídos insuportáveis e repetitivos martelam meu espiríto e o da platéia que me cerca e ainda vou tirar um tempo para saber o que está acontecendo. Oportunidades como estas não podem ser deixadas para outros planos. Não é a primeira vez nesta (noite) que o cheiro dos transeuntes me nausea e essa voz que, por mania de errar, direi que é perturbadora, angustiante, ou qualquer outro benefício entregue em mãos que faça um corpo sair dos eixos, tornar-se vulnerável para todos os nossos adversários, especialmente aqueles que desejamos pertolonge, de cara lavada ou com a visão embotada por vinho suave, objeto permutável e visível das coisas existentes e que estão por vir. Quem toca a campainha a minha casa e me tira desta posição de porte transcedental me faz duvidar da própria respiração e da comichão de fruto primevo que nos leva a agir. De agora em diante me lembro das professoras do colegial que tentam nos tornar alguma coisa plausível e de compreensão para todos os povos. Abandono a pausa, o intervalo entre dois sons quaisquer, a mosca que parece não se inquietar com os movimentos bruscos da minha mão direita sobre o papel. Sim, sou destro e tomo estas notas.

domingo, 9 de agosto de 2009

é de lado que Andressa vai chegando
tirando à limpo tudo que viu e não viu
enfiando a cabeça como uma cadela que pecisa de carinho

não sou seu dono
não gosto da sua comida
não sei quem a habita com tanto mau gosto

vou chegando para o lado
da mesma forma que Andressa chegou
com um hálito de desejo
minha esbórnia, minha hora

Gary Hill

Fui recentemente assistir à exposição do videoartista Gary Hill no Oi Futuro e saí de lá bem angustiado. Primeiro porque o cara é uma das principais referências quando se pensa na fusão de arte e tecnologia e estar diante de alguns de seus vídeos é oportunidade única. Segundo porque os vídeos são sim, digamos, muito angustiantes.
Na primeira sala, 4 projetores nos mostram situações diferentes, corriqueiras, mas em flash. Só captamos pequenos instantes daquelas ações, que em um momento estão em slow motion, em outro estão aceleradas. A crença no poder da nossa percepção desmorona-se e também a crença no poder das imagens. Elas não dizem nada. O engraçado também é que eu fiquei tentando estabelecer alguma conexão entre as imagens, tecer algum fio narrativo, por mais tênue que fosse, mas me dei conta de que não seria mesmo possível.

Na segunda sala há o tão famoso vídeo Wall Piece, no qual um ator é jogado ao chão em intervalos regulares e a cada vez que ele toca o solo uma luz estroboscópica muito intensa é acesa e ele diz uma palavra, que depois percebemos se tratar de um texto inteiro. Quem aguentou ficar lá para entender o texto todo?

Mais acima vemos a dança de duas mãos sobre dois tabuleiros estampados com flores, que giravam um em sentido horário e outro em sentido antihorário. Enquanto isto, as mãos "pronunciam" um texto com voz sintetizada. Uma poesia? Uma coreografia?

Em outra sala vemos uma fileira enorme do que me pareceram mexicanos, estáticos, nos olhando fixamente. Ai meu Deus! Saí correndo dali.
Na última sala vemos partes do corpo de Gary Hill tocando uma tela preta (?) e de acordo com o texto fora da sala, sons que eram emitidos peo corpo de Gary, de frequência altíssima foram capturados por microfones especiais e criavam a ambientação da sala. Viagem ao infinito? O corpo de Gary empurrava aquelas placas coisa nenhuma em direção ao nada?
Desci correndo todas as escadas, com uma sensação de me tirem daqui.

Fantástica, recomendo:
Gary Hill O lugar sem o tempo
Até 6 de setembro
Oi Futuro, Rua 2 de dezembro, Largo do Machado

sábado, 8 de agosto de 2009

Moby Dick


Depois do lançamento da edição definitiva do romance monumental do escritor norte-americano Herman Melville, estreia nos palcos cariocas uma belíssima montagem do diretor Aderbal Freire-Filho do texto que mistura meditação filosófica, tratado científico, história da arte, tragédia shakesperiana e narrativa de viagens. Trata-se de Moby Dick, um romance de mais de 600 páginas, traduzidos para uma ilha de vertigens no meio do placo.
Acompanhamos em um barcotablado a aventura do capitão Ahab pelos mares do Pacífico-Sul em cima do baleeiro Pequod na caça da baleia cachalote de nome Moby Dick, que havia arrancado uma perna sua, e vivia pelos mares com vários arpões e ferros enterrados em seu corpo.

Essa busca pela baleia é obssessiva, doentia, coloca em risco a vida de todos no navio. A baleia possui um sentido extremamente alegórico na narrativa e vale dizer que provavelmente nem mesmo o Melville sabia dizer o que ela realmente significava. Os quatro atores, Chico Diaz, Isio Ghelman (inúmeras montagens apenas no Tetaro Poeira), Orã Figueiredo e André Mattos (uma grande surpresa) estão excelentes, viscerais mesmo. Mas quem me surpreendeu mesmo foi o Chico Diaz, que faz o capitão Ahab e também outros personagens. O corpo do ator se contorce, gira, grita, se transforma em baleia. Empreendimento audaz do sempre audaz do diretor Aderbal Freire-Filho, que nos diz no prospecto que a peça não é uma adaptação do romance, que levaria dias, mas um "retrato 3x4 da baleia".

Muito bom dizer também que a peça prima pelo texto. Somos colocados diante de um dos maiores textos da Weltliteratur, considerados por muitos a maior obraprima norte-americana. Deixo a palavra com Borges: "Página a página, o relato se agiganta até superar o tamanho do cosmos: a princípio o leitor pode supor que seu tema é a vida miserável dos arpoadores de baleias; em seguida, que o tema é a loucura do capitão Ahab, ávido por acossar e destruir a Baleia Branca; depois, que a Baleia e Ahab e a perseguição que esgota os oceanos do planeta são símbolos e espelhos do Universo." Não temos apenas na nossa frente a adaptação de um relato de aventuras, mas um romance transcedental. Melville julga que todas as coisas do mundo possuem um sentido espiritual.

Parabéns para a direção musical de Tato Taborda, cenário de Fernando Mello da Costa e Rostand Albuquerque e iluminação do Maneco Quinderé. E parabéns para a Marieta Severo e Andréia Beltrão por nos dar esse espaço maravilhoso no Rio que é o Teatro Poeira, espaço de espetáculos sempre primorosos.


Moby Dick
quinta e sexta, 21h, R$40,00
sábado, 21h, R$50,00
domingo, 19h, R$50,00





domingo, 26 de julho de 2009

"O que a memória ama, fica eterno.
Te amo com a memória, imperecível."


Adélia Prado

Há tanto tempo que te amo






sábado, 11 de julho de 2009

E aí? Vai encarar?



Depois da leitura voraz de "O convidado surpresa", do escritor francês Grégoire Bouillier, comecei minha caça por informações sobre o moço na rede e achei um questionário bem simples, elaborado por ele e pela artista plástica, Sophie Calle, de quem eu não preciso falar muito.

Leiam esta obra-prima na era do orkut...


1) Quando você já morreu?
2) O que faz você se levantar de manhã?
3) O que viraram os seus sonhos de infância?
4) O que distingue você dos outros?
5) O que falta em você?
6) Acha que todo mundo poderia ser artista?
7) De onde você vem?
8) Você acha o seu destino invejável?
9) A que você renunciou?
10) O que você faz com o seu dinheiro?
11) Qual tarefa doméstica provoca mais aversão em você?
12) Quais são os seus prazeres favoritos?
13) O que você gostaria de ganhar de aniversário?
14) Cite três artistas vivos que você deteste.
15) O que você defende?
16) O que você é capaz de recusar?
17) Qual é a parte mais frágil do seu corpo?
18) O que você já foi capaz de fazer por amor?
19) O que recriminam em você?
20) Pra que serve a arte?
21) Redija o seu epitáfio.
22) Sob que forma você gostaria de voltar?

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Dicas para sempre
















recital

do jeito que ela canta
é impossível não ver um pássaro sinistro
um bicho sem olhos, mal-cheiroso, sem tato
um lugar nenhum, buraco fundo, caixa sem tampa

uma tela fotografada
um corpo mal furado de balas
de canhão
microorganismos venenosos na boca de um vulcão

terra em guerra
senhores da terra, em guerra
santas fugindo da terra
pestilência que se ouve de longe

tudo que ela faz é cantar
arreganhar a boca e atirar seus dentes
ímpia
até meu coração se sentir forasteiro no país
que pensava governar antes da sua chegada

sábado, 27 de junho de 2009

Simone Weil - do amor


"L’esprit n’est forcé de croire à l’existence de rien (subjectivisme, idéalisme absolu, solipsisme, scepticisme : voir les Upanishads, les Taoïstes et Platon, qui, tous, usent de cette attitude philosophique à titre de purification). C’est pourquoi le seul organe de contact avec l’existence est l’acceptation, l’amour. C’est pourquoi beauté et réalité sont identiques. C’est pourquoi la joie et le sentiment de réalité sont identiques."


"Amour de la vérité est une expression impropre. La vérité n’est pas un objet d’amour. Elle n’est pas un objet. Ce qu’on aime, c’est quelque chose qui existe, que l’on pense, et qui par là peut être occasion de vérité ou d’erreur. Une vérité est toujours la vérité de quelque chose. La vérité est l’éclat de la réalité. L’objet d’amour n’est pas la vérité, mais la réalité. Désirer la vérité, c’est désirer un contact avec une réalité, c’est l’aimer. On ne désire la vérité que pour aimer dans la vérité. On désire connaître la vérité de ce qu’on aime. Au lieu de parler d’amour de la vérité, il vaut mieux parler d’un esprit de vérité dans l’amour.L’amour réel et pur désire toujours avant tout demeurer tout entier dans la vérité, quelle qu’elle puisse être, inconditionnellement.Toute autre espère d’amour désire avant tout des satisfactions, et de ce fait est principe d’erreur et de mensonge. L’amour réel et pur est par lui-même esprit de vérité. C’est le Saint-Esprit. Le mot grec qu’on traduit par esprit signifie littéralement souffle igné, souffle mélangé à du feu, et il désignait, dans l’antiquité, la notion que la science désigne aujourd’hui par le mot d’énergie. Ce que nous traduisons ‘esprit de vérité’ signifie l’énergie de la vérité, la vérité comme force agissante. L’amour pur est cette force agissante, l’amour qui ne veut à aucun prix, en aucun cas, ni du mensonge ni de l’erreur. "

Uwe Loesch : Der Ort, die Zeit und der Punkt




Pôsteres do maior designer alemão vivo.


sexta-feira, 26 de junho de 2009

Ética

No escritório não havia mais ninguém. À essas horas da noite é difícil encontrar uma viv'alma sequer em todo este edifício. Sei que o centro da cidade fica mais escuro do que já é e não é mesmo seguro ficar por aqui, sendo obrigado a caminhar por essas ruelas sombrias, de chão sempre molhado, até o estacionamento onde todos daqui costumam guardar seus carros. Mas resolvi ficar. Estava cheio de verificações finais a fazer e a segunda-feira não poderia começar com um esporro do Antônio. Só a sombra dele ou então o menor barulho de seus passos já era suficiente para me paralisar. O mais engraçado é que o sujeito sempre foi muito gentil com todos, para não dizer servil, resultado de um espírito costumeiramente antenado com as mais novas prescrições sobre ética no trabalho e em como fazer com que seu modo de tratar bem as pessoas as ajude a serem mais produtivas.
Mas a Clara não me deixava trabalhar em paz. Minha concentração era perdida a cada segundo que eu colocava os olhos sobre aquele retrato ao lado do porta-lápis e nenhuma força vigente no universo me faria esticar as mãos para abaixá-lo ou guardá-lo na gaveta de "material pessoal". Ela nunca mais ia voltar, esta era a única certeza que possuía, não havendo nem filho, nem carreira, nem família, nem doença que a fizesse pensar duas vezes e reparar o erro que havia cometido.

O relógio marcava dez horas e vinte e três minutos. Num rompante de um impulso qualquer, guardei todos os papéis na gaveta de "procedimentos arquivados", peguei meu casaco que tinha deixado na cadeira do Lobo (não me lembro agora porque fiz isto) e saí da sala. Tranquei a porta, dando duas voltas na chave, e desci as escadas que me levavam ao hall do edifício número 14, prédio que trabalho há sete anos.

Arthur Omar










Algumas fotos da série "Antropologia da face gloriosa"