sábado, 22 de agosto de 2009

Eu não quero dormir sozinho








Acabei de ver o último filme lançado no Brasil do meu diretor predileto, Tsai Ming-Liang. E ele vai continuar ocupando esse posto durante um bom tempo.
Dono de uma cinematografia extremamente coerente, Tsai já declarou em uma entrevista que vai continuar fazendo os "mesmos" filmes, sobre os males da sociedade contemporânea no coração dos seres humanos, uma espécie de Antonioni do oriente. Mas em cada filme novo que ele nos dá, há uma ideia de superação, de evolução dos seres vivos, deixando seus filmes quase sequenciais. Pode-se até dizer que é preciso ver todas as suas produções, de longas a curtas, para poder entender melhor do que se trata o último filme dele.
Se em "O sabor da melancia", toda possibilidade de afeto foi jogada no ralo pela cena final do filme, em "Eu não quero dormir sozinho" os personagens, uma vez já rompida a barreira do corpo para se demonstrar carinho por alguém, eles até mesmo sentem ciúme e a complexidade das relações se expande.
O que foi a cena de sexo não consumado por causa da fumaça tóxica na cidade? Meu Deus!!
Não vou mais falar muito. Baixem esse filme ou quando tiverem a oportunidade de assistirem na telona, o façam!


sexta-feira, 21 de agosto de 2009

ouvi

Duas recentes descobertas musicais:
1. Gabo Ferro

Descobri o moço argentino no ótimo blog do Zeca Camargo, isso mesmo, o apresentador global. Foi amor à primeira audição:

http://www.youtube.com/watch?v=lGYJdv1ta-E


2. Filthy Dukes


O trio de electro daí da foto de não sei que país também me deixou, digamos, apoplético. Se um treco desses toca em alguma dessas festas xoxas que tem rolado aqui no Rio, eu acho que serei forçado a sair de mim.

http://www.youtube.com/watch?v=dPD0jB53Vbo

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

olha em frente Tarsila
contempla os sorrisos do teu povo
dança sorrateira encostada na parede das nossas salas
sai de fininho como quem não viu nada

é né, né mesmo?

Música é música. (dãa!!) Mas música também é letra.
Parece infantil e talvez não acrescente nada a quem for ler esta postagem, mas ajudando meu irmão em um dever de casa de interpretação de texto, acabamos discutindo sobre o que pode nos trazer felicidade e ele disse que fica muito feliz quando consegue passar de uma fase no video game.
Enfim, lá vai uma letra de música que me deixa sempre radiante, apesar de ser muito triste. Delicate, do Damien Rice, do álbum "O", assaz delicada (sempre quis usar esta palavra).


We might kiss when we are alone
nobody's watching
We might take it home
We might make out when nobody's there
It's not that we're scared
It's just that it's delicate

So why do you fill my sorrow
With the words you've borrowed
From the only place you've known?
And why do you sing Hallelujah
If it means nothing to you?
Why do you sing with me at all?

We might live like never before
When there's nothing to give
Well how can we ask for more
We might make love in some sacred place
The look on your face is delicate

So why do you fill my sorrow
With the words you've borrowed
From the only place you've known?
And why do you sing Hallelujah
If it means nothing to you?
Why do you sing with me at all?

So why do you fill my sorrow
With the words you've borrowed
From the only place you've known?
And why do you sing Hallelujah
If it means nothing to you?
Why do you sing with me at all?



XV Rio Cello Encounter

Sei que estou atrasado, mas ainda dá tempo de conferir muita coisa boa. Lá vai a programação restante:

Quinta, dia 20
Rachel Lee, violino Diego Cardoso, violoncelo Gerald Robbins, piano STRAVINSKI: Suíte Italiana HAYDN: Trio em Sol menor “Cigano” FRANCK: Sonata em Lá Maior
CELLO DANCE
Sala Cecília Meireles - 17hEnd: Largo da Lapa n.47, Lapa, Rio de Janeiro
Qui - 20 de Agosto
Haroutune Bedelian, violino Lars Hoefs e Minna Rose Chung*, violoncelos Daniel Levin, piano Focus Cia de Dança Ao vivo coreografia: Alex Neoral Interpret., Um a Um e Strong Strings coreografias: Alex NeoralJ.S. BACH: Contrapunctus I de A Arte da Fuga, Adágio da Sonata para violoncelo e piano n.º 2 em Ré Maior BWV 1028 Prelúdio da Suíte para violoncelo solo nº 6 em ré Maior BWV 1012 Andante da Sonata para violoncelo e piano nº1 em Sol Maior BWV 1027 Andante da Sonata emº 2 em Ré Maior BWV 1028 Sarabanda da Suíte nº 6 em Ré Maior Chaconne para violino OBRAS DE NIRVANA: Lithiium Smells like teen spirits Something in the way Come as you are
Teatro Nelson Rodrigues - 19:30hAv. República Chile, 230 – Centro (21) 2262-8152
Qui - 20 de Agosto
“Darwin e Chopin” Homenagem aos 200 anos do cientista britânico, cuja esposa era pianista e foi aluna de Chopin. Darwin e ela viveram no Rio de Janeiro por 6 meses durante suas viagens de pesquisa. Diego Cardoso, violoncelo Gerald Robbins, Evan Metral, Luis Gustavo Torres, piano Obras de Chopin, Schumann e Alkan
Sala Cecília Meireles - 17hEnd: Largo da Lapa n.47, Lapa, Rio de Janeiro
Qui - 20 de Agosto
Trio Montana David Haughey, violoncelo Natalie Padilla, violino Chelsea Padilla, piano Mendelssohn: Trio em Ré Maior o. 49 Bluegrass Gigas irlandesas
Espaço SESC - 21hRua Domingos Ferreira, 160- Copacabana(21) 2548-1088
Qui - 20 de Agosto
Armen Ksajikian, violoncelo Guilherme Bernstein e Vantoil de Souza Junior, regentes Orquestra Sinfônica de Barra Mansa VERDI: Abertura “La Forza Del Destino” DVORAK: Concerto para Violoncelo e Orquestra TCHAIKOVSKI: Suíte do balé “A Bela Adormecida” VILLA-LOBOS: Choros nº 6
Conservatório de Tatuí - Concha Acústica - 20hRua São Bento, 415 - Centro- Tatuí/SP - RJ(15) 3251-4573
Sex - 21 de Agosto
Armen Ksajikian, violoncelo Miriam Braga, piano Danças do Mundo CELLO DANCE
Conservatório de Tatuí - Concha Acústica - 13hRua São Bento, 415 - Centro- Tatuí/SP - RJ(15) 3251-4573

Sex - 21 de Agosto
Estação Siqueira Campos Projeto MoBe coreografia: Bettina Dalcanalle e Mônica Barbosa
Metro Rio- 12:30h
Sex - 21 de Agosto
Haroutune Bedelian, violino Diego Cardoso e Minna Rose Chung*, violoncelos Evan Metral piano Focus Cia de Dança Ao vivo coreografias: Alex Neoral J.S. BACH: Contrapunctus I de A Arte da Fuga, Adágio da Sonata para violoncelo e piano n.º 2 em Ré Maior BWV 1028 Prelúdio da Suíte para violoncelo solo nº 6 em ré Maior BWV 1012 Andante da Sonata para violoncelo e piano nº1 em Sol Maior BWV 1027 Andante da Sonata emº 2 em Ré Maior BWV 1028 Sarabanda da Suíte nº 6 em Ré Maior Chaconne para violino NIRVANA: Lithiium Smells like teen spirits Something in the way Come as you are
CAIXA Cultural - Teatro Nelson Rodrigues – 19h30Av. República Chile, 230 – Centro- Rio de Janeiro– RJ (21) 2262-8152
Sex - 21 de Agosto
CAIXA CULTURAL CELLO DANCE. Haroutune Bedelian - violino, Diego Cardoso, Lars Hoefs e Minna Chung - violoncelos, Evan Metral - piano. Focus Cia de Dança. Obras de Bach e Nirvana.
Teatro Nelson Rodrigues - 19:30hAv. República Chile, 230 – Centro(21) 2262-8152
Sex - 21 de Agosto
CELLO, POP, JAZZ E MPB. Jan Dumée - violão e guitarra, Victor Biglione - violão e guitarra, Mauro Senise - sax e flauta, Gilson Perannzzetta - piano, Ensemble de Violoncelos. Obras de Jan Dumée, Gilson Peranzzetta, entre outros.
Espaço SESC - 21hRua Domingos Ferreira, 160- Copacabana(21) 2548-1088

Sab - 22 de Agosto
Ednéia de Oliveira - mezzo-soprano, Armen Ksajikian - violoncelo, Guilherme Bernstein e Vantoil de Souza Junior - regentes. Villa-Lobos - Bachianas Brasileiras nº 4, Dvorak - Concerto para Violoncelo e Orquestra, Bizet - Prelúdio e árias da”Carmen”, Villa-Lobos - Choros nº6
Espaço Tom Jobim - 12hRua Jardim Botânico, 1008- Jardim Botânico (21) 22747012
Sab - 22 de Agosto
Diego Cardoso, Lars Hoefs e Minna Rose Chung*, violoncelos Diego Fortes, piano Cecelo Frony, guitarra Jan Dumée, guitarra/violão Adriana Salomão com Anotações coreografia: Adriana Salomão JAN DUMÉE: Steal the Night Bettina Dalcanale com Atitude coreografia: Mônica Barbosa CECELO FRONY: Atitude Mônica Barbosa com Um vôo aterrissado coreografia: Mônica Barbosa VILLA LOBOS: O Uirapuru Focus Cia de Dança com Uma a Um coreografia: Alex Neoral J.S. BACH: Contrapunctus I de A Arte da Fuga, Adágio da Sonata para violoncelo e piano n.º 2 em Ré Maior BWV 1028 Prelúdio da Suíte para violoncelo solo nº 6 em ré Maior BWV 1012 Andante da Sonata para violoncelo e piano nº1 em Sol Maior BWV 1027 Andante da Sonata emº 2 em Ré Maior BWV 1028 Sarabanda da Suíte nº 6 em Ré Maior Chaconne para violino Cia Nós da Dança com Cirandas Cirandinhas coreografia: Regina Sauer VILLA-LOBOS Carneirinho Carneirão Passa-passa gavião Nesta rua nesta rua Adeus Bela Morena Terezinha de Jesus e O Cravo
Teatro Nelson Rodrigues - 19:30hAv. República Chile, 230 - Centro(21) 2262-8152
Sab - 22 de Agosto
CELLO ROMÂNTICO Rudá Alves, violino Diego Felipe, violoncelo Armen Ksajikian, violoncelo Evan Metral e Luis Gustavo Torres, pianoSCHUMANN – Adágio e allegro para violoncelo e piano op. 70 RACHMANINOV - Sonata para violoncelo e pianoFAURÉ - Elegia para cello e pianoRACHMANINOV - Trio Elegíaco (1892)
Espaço SESC - 21hRua Domingos Ferreira, 160- Copacabana(21) 2548-1088

Dom - 23 de Agosto
OS 8 VIOLONCELOS DE TURIM Alberto Capellaro, Claudia Ravetto, Fabrice De Donatis, Heike Schuch, , Manuel Zigante, Massimo Barrera, Paola Perardi, Umberto Clerici, violoncelos SCOTT JOPLIN: “Scott Joplin’s New Rag” - Allegro ModeratoGABRIEL FAURÈ: Elegiè op. 24 – solista Umberto Clerici TOM WAITS: Little Drop of Poison (para 5 cellos) DAVID. POPPER: Polonaise e Concert op. 14 (para 4 cellos) GIUSEPPE VERDI: Sinfonia dal “Nabucco” – arr. de A. Murgia GEORGES SOLLIMA: "Violoncelles Vibrez!" - solistas Paola Perardi, Umberto ClericiL. E. BACALOV "Il postino" arr. de Alessio Murgia NICOLA PIOVANI: "La vita è bella" arr. de A. MurgiaELMER BERNSTEIN: "I magnifici sette" arr. de A. Murgia
Igreja da Candelária - 16hPraça Pio X, Centro- RJ (21) 2233-2324
Dom - 23 de Agosto
Quarteto de Violoncelos e Quarteto de Cordas Daniel Levin e Diego Fortes, piano Silvio Sanuto, percussão Bruce Henri, contrabaixo Paula Águas com Improviso coreografia: Paula Aguas Lavínia Bizzotto com Na dobra do tempo coreografia: Lavínia Bizzoto e Juliana Morais BRUCE HENRI: Na Dobra do Tempo Focus Cia de Dança com Strong Strings coreografia: Alex Neoral NIRVANA: Lithiium Smells like teen spirits Something in the way Come as you are Cia Nós da Dança com Cirandas Cirandinha coreografia: Regina Sauer VILLA-LOBOS Carneirinho Carneirão Passa-passa gavião Nesta rua nesta rua Adeus Bela Morena Terezinha de Jesus e O Cravo
Teatro Nelson Rodrigues - 19:30hAv. República Chile, 230 – Centro(21) 2262-8152
Dom - 23 de Agosto
CELLO JAM. Diversos artistas. Programa anunciado na hora.
Espaço SESC - 20hRua Domingos Ferreira, 160- Copacabana(21) 2548-1088

Seg - 24 de Agosto
VIOLONCELADA - ENCERRAMENTO DO RICE 2009. Rachel Lee - violino, Trio Montana, Os 8 violoncelos de Turim, Ensemble de Violoncelos, Pianistas e solistas do Rice, Bailarinos do Cello Dance. Obras de Villa-Lobos, Chopin, Gershwin, Jobim, Bizet.
Sala Cecília Meireles - 19hEnd: Largo da Lapa n.47, Lapa, Rio de Janeiro

Dom - 30 de Agosto
Cia Brasileira de Danças Clássicas com Concerto para Cello coreografia: Jhean Allex In-pulso Cia de Dança com Da Capo coreografia: Jhean Allex Mariana Chew e Arthur Brandão com Carmen coreografia: Eloisa Menezes In-pulso Cia de Dança com Todas as Águas do mundo coreografia: Jhean Allex
BIZET:Habanera, da ópera “Carmen” para voz e quarteto de violoncelosJ.S. BACH: Suíte no. 1 BWV 1007 PrelúdioATREYU: This Flesh a tomb THE FLESHQUARTET: Innocent KOGI KONDO: Legend of Zelda Medley APOCALYPITICA: Conclusion METALLICA: Fade to Black
Conservatório de Tatuí - Concha Acústica - 20hRua São Bento, 415 - Centro- Tatuí/SP - RJ(15) 3251-4573

Café Lumière e para quê serve o cinema


Há uns dias atrás eu assisti (baixado mesmo, via torrent, fazer o que?) o instigante filme do diretor taiwanês Hou Hsiao-hsien, Café Luimère. Já havia assistido outros filmes dele em tela grande e na telinha, como Millenium Mabo, Três tempos e Flores de Xangai, todos experiências de cinema muito diferentes até então. Se em Millenium Mabo temos o casal problema percorrendo as boates de Taiwan, em Três tempos acompanhamos três histórias de amor que se passam em diferentes épocas e em Flores de Xangai entramos e saímos hipnotizados de bordéis chineses do final do século XIX, é difícil dizer qual o mote narrativo de Café Lumière. Hsiao-hsien é conhecido pelos seus planos-sequência enormes e sua busca em filmar o cotidiano com todos seus sons, gestos e luzes. Mas neste filme sobre o qual eu tento escrever ele leva sua estética ao máximo.

Sabemos apenas que a jovem do filme está grávida e quer ter o filho sozinha. Ela é escritora e pesquisa (em Tóquio?) sobre um compositor meio desconhecido. Um outro jovem, japonês, (o sempre fantástico Tadanobu Asano, que pode ser visto aualmente em O guerreiro Gengis Khan) gerencia um sebo e gosta de gravar os sons dos trens e dos transeuntes. E só. O resto é imersão, é atmosfera.



Em uma cena que me tirou o fôlego (sem precisar recorrer a tiroteios e sexo explícito) a jovem caminha falando com alguém pelo celular até a câmera continuar o seu percurso e ela sumir do plano e continuarmos ouvindo sua voz. Ela se perdeu na multidão? Sacanagem do diretor? Não. Percebemos então que ela está apenas esperando o sinal fechar, mas não a vemos mais pois uma pilastra se coloca bem na nossa frente. Em outra cena ela caminha com o japonês e para diante de uma loja. Os dois apontam para o alto e ela saca sua câmera e começa a fotografar o alto do prédio. Quando a câmera lentamente sobe e parece nos querer mostrar o que os deteve naquele ponto, vemos apenas janelas e a folhagem de uma árvore que provavelmente estava fazendo sombra para o câmera.


Hsiao-hsien nos mostra as luzes da manhã, faz seus personagens se perderam na multidão, acompanha com uma falsa passividade o passar dos trens nas inúmeras linhas que atravessam a cidade. É um cinema rigoroso, apesar de tudo, extremamente formal. O expectador precisa estabelecer uma relação cerebral com o filme apesar de tanta vida pulsar na frente dos seus olhos, sem muito discurso. Digo isto pois é necessário que se preste atenção a cada mudança de detalhes, a cada sombra, a cada gota de chuva. Há uma cena no filme que eu achei a melhor. Ela conversa com alguém que vai esperá-la numa estação de trem qualquer ou vai entrar no trem quando ela passar pela estação tal, pois ela diz que ficará sentada no primeiro vagão. Na cena seguinte ela está de pé no trem e ao chegar na estação ela titubeia, mas sai do vagão. Depois vemos do alto um rapaz parado, de pé, e os trens cruzando a cidade. É ele a tal pessoa que ela estava esperando? Ela siu do trem porque ele deu um bolo nela? Não, ela está apenas se sentindo mal e depois os dois caminham tranquilamente pela cidade...

Durante vários momentos eu tive a sensação de estar diante de uma série de quadros em slide show. Lembrei-me do cinema do Apichatpong Weerashetakul, da Chantal Akerman e do Carlos Reygadas, onde tudo está ali a favor do cinema, as luzes, os diálogos as respirações dos atores. Digo o cinema dos irmãos Lumière, que tinha como foco os operários que saíam das fábricas, o passo acelerado das pessoas na rua. Os jovens não são robotizados, mecânicos, como nos filmes do Tsai Ming-Liang, criando aquele ambiente pesado de solidão e falta de contato. Antes de mais nada, eles se emocionam com um livro infantil, tem pesadelos, comem com vontade e pedem o bife predileto para a mãe. Talvez o nome do filme venha daí, pois em nenhum momento há qualquer alusão a este tal café e talvez o cinema, o CINEMA, sirva para isto. Documentar o nada e transformá-lo em substância.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

"Onde agora? Quando agora? Quem agora? Sem me perguntar. Dizer eu. Sem pensar. Chamar isso de perguntas, hipóteses. Ir adiante, chaamr isso de ir, chamar isso de adiante. Pode ser que um dia, primeiro passo, vai, eu tenha ficado simplesmente ali, onde, em vez de sair, segundo um velho hábito, passar dia e noite tão longe de casa quanto possível, não era longe. Pode ter começado assim. Não me farei mais perguntas. Você só pensa em descansar, para agir melhor depois, ou sem segundas intenções, e eis que em pouco tempo já está na impossibilidade de nunca mais fazer nada. Pouco importa como isso se deu. Isso, dizer isso, sem saber o quê. Talvez não tenha feito mais que ratificar um velho fato consumado. Mas não fiz nada de fato. Parece que falo, não sou eu, de mim, não é de mim. São algumas generalizações para começar..."


O inominável - Samuel Beckett

Nan Goldin - Corpos, gêneros, marcas






"It is very political. First, it is about gender politics. It is about what it is to be male, what it is to be female, what are gender roles... Especially The Ballad of Sexual Dependency is very much about gender politics, before there was such a word, before they taught it at the university. A friend of mine said I was born with a feminist heart. I decided at the age of five that there was nothing my brothers can do and I cannot do. I grew up that way. It was not like an act of decision that I was going to make a piece about gender politics. I made this slideshow about my life, about my past life..."
Nan Goldin em entrevista para o site polonês fotoTAPETA http://fototapeta.art.pl/index.html








Medicina

Agir costuma ser foda. É incrível como tudo parece sair dos eixos a todo instante. Colocar um cigarro na boca é baixar vertiginosamente minha alegria. Eduardo parece sempre distante. Dois filmes vistos pela metade ontem à tarde, ando sem paciência para qualquer ficção. Hoje no trabalho consegui conversar por um instante com a Márcia, gente fina ela. Acho que é casada há oito anos. Oito. A empresa que arquiva as notas fiscais faliu. Um cara no ônibus entregou a mochila para uma menina segurar. Ela estava sentada. Ele estava em pé. Bonita a menina. O André me ligou para tomarmos um chope na sexta, mas eu não sei não, ele tá muito gordo. Já percebeu como ele tem mau hálito? Não acredito mesmo que aquela garota se estabacou da escada, coitada, deve estar toda arrebentada. Eduardo deve ter me esquecido. Meus cigarros acabaram e confesso que tenho preguiça de descer isso tudo para comprar mais. Vou parar com essa porra. Todo mundo morrendo e essa merda desse governo não deixando a gente se fuder com dignidade. O filme que eu estava vendo ontem era muito chato, não acontecia nada e aquela bosta daquela câmera parada, parece que o diretor tinha dormido. Viado. A Márcia tem tanta caspa sabe, fica com a camisa cheia de pontinhos brancos, muito nojento. Acho o marido dela um tesão. Se ele me olhasse eu dava pra ele na mesa do escritório mesmo, com todo mundo olhando. Meu sonho é trepar com todo mundo me vendo, me aplaudindo, se masturbando enquanto observam cada ponto avançado na minha buceta. Ai esse calor que não passa. A piranha da menina do ônibus só se ofereceu para segurar a bolsa porque estava secando o menino com os olhos quando ele entrou. Eu hein. Molequinho feio, sem graça, de óculos baratinho, um horror. Está na hora de trocar o papel de parede desse... Vi em duas revistas uns papéis lindos, não faço nem ideia do precinho. Acho que não deve ser tão caro. Aqui é pequeno também, não tem muito luxo, como a Isabel sempre fala com os caras. Sumiu, a Isabel. A cirurgia da minha avó é amanhã, preciso ligar para ela. Ser médico é uma coisinha escrota né. A velha com quase noventa anos e eles operando-a do baço. Porra, daqui a pouco vai morrer mesmo, essas coisas não fazem sentido. Eu nunca estudaria para ser médica. Acho que não tenho ninguém para salvar.

Cinema


Mostras de cinema no Rio imperdíveis!!!


No crepúsculo de Winnipeg - O cinema de Guy Maddin
Oportunidade ÚNICA de ver os filmes deste excêntrico diretor canadense, nunca exibidos no Brasil!
Criador de um universo extremamente onírico e cheio de bizarrices, seus filmes falam da morte, do tempo e do amor. Dica: A música mais triste do mundo, sab 22 e sab 29.

de 18 a 30 de agosto
CCBB/Rio
Sessões às 18h e 20h
R$6,00


quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Resposta à Worm / tornar-me meus próprios olhos


Habitante do Rio de Janeiro. Meu nome fala de um local já estabelecido, de um tempo dado pelas contingências. Os gomos da tangerina tem sempre uma pela muito fina e a acidez que sai dos alvéolos irrita meus olhos que por sua vez tem um espaço certo na parte superior da minha cabeça, anexada ao resto de meu corpo, nossa matéria que por capricho de minha mão se retorce toda em circunvoluções e meneios de negação. Ruídos insuportáveis e repetitivos martelam meu espiríto e o da platéia que me cerca e ainda vou tirar um tempo para saber o que está acontecendo. Oportunidades como estas não podem ser deixadas para outros planos. Não é a primeira vez nesta (noite) que o cheiro dos transeuntes me nausea e essa voz que, por mania de errar, direi que é perturbadora, angustiante, ou qualquer outro benefício entregue em mãos que faça um corpo sair dos eixos, tornar-se vulnerável para todos os nossos adversários, especialmente aqueles que desejamos pertolonge, de cara lavada ou com a visão embotada por vinho suave, objeto permutável e visível das coisas existentes e que estão por vir. Quem toca a campainha a minha casa e me tira desta posição de porte transcedental me faz duvidar da própria respiração e da comichão de fruto primevo que nos leva a agir. De agora em diante me lembro das professoras do colegial que tentam nos tornar alguma coisa plausível e de compreensão para todos os povos. Abandono a pausa, o intervalo entre dois sons quaisquer, a mosca que parece não se inquietar com os movimentos bruscos da minha mão direita sobre o papel. Sim, sou destro e tomo estas notas.

domingo, 9 de agosto de 2009

é de lado que Andressa vai chegando
tirando à limpo tudo que viu e não viu
enfiando a cabeça como uma cadela que pecisa de carinho

não sou seu dono
não gosto da sua comida
não sei quem a habita com tanto mau gosto

vou chegando para o lado
da mesma forma que Andressa chegou
com um hálito de desejo
minha esbórnia, minha hora

Gary Hill

Fui recentemente assistir à exposição do videoartista Gary Hill no Oi Futuro e saí de lá bem angustiado. Primeiro porque o cara é uma das principais referências quando se pensa na fusão de arte e tecnologia e estar diante de alguns de seus vídeos é oportunidade única. Segundo porque os vídeos são sim, digamos, muito angustiantes.
Na primeira sala, 4 projetores nos mostram situações diferentes, corriqueiras, mas em flash. Só captamos pequenos instantes daquelas ações, que em um momento estão em slow motion, em outro estão aceleradas. A crença no poder da nossa percepção desmorona-se e também a crença no poder das imagens. Elas não dizem nada. O engraçado também é que eu fiquei tentando estabelecer alguma conexão entre as imagens, tecer algum fio narrativo, por mais tênue que fosse, mas me dei conta de que não seria mesmo possível.

Na segunda sala há o tão famoso vídeo Wall Piece, no qual um ator é jogado ao chão em intervalos regulares e a cada vez que ele toca o solo uma luz estroboscópica muito intensa é acesa e ele diz uma palavra, que depois percebemos se tratar de um texto inteiro. Quem aguentou ficar lá para entender o texto todo?

Mais acima vemos a dança de duas mãos sobre dois tabuleiros estampados com flores, que giravam um em sentido horário e outro em sentido antihorário. Enquanto isto, as mãos "pronunciam" um texto com voz sintetizada. Uma poesia? Uma coreografia?

Em outra sala vemos uma fileira enorme do que me pareceram mexicanos, estáticos, nos olhando fixamente. Ai meu Deus! Saí correndo dali.
Na última sala vemos partes do corpo de Gary Hill tocando uma tela preta (?) e de acordo com o texto fora da sala, sons que eram emitidos peo corpo de Gary, de frequência altíssima foram capturados por microfones especiais e criavam a ambientação da sala. Viagem ao infinito? O corpo de Gary empurrava aquelas placas coisa nenhuma em direção ao nada?
Desci correndo todas as escadas, com uma sensação de me tirem daqui.

Fantástica, recomendo:
Gary Hill O lugar sem o tempo
Até 6 de setembro
Oi Futuro, Rua 2 de dezembro, Largo do Machado

sábado, 8 de agosto de 2009

Moby Dick


Depois do lançamento da edição definitiva do romance monumental do escritor norte-americano Herman Melville, estreia nos palcos cariocas uma belíssima montagem do diretor Aderbal Freire-Filho do texto que mistura meditação filosófica, tratado científico, história da arte, tragédia shakesperiana e narrativa de viagens. Trata-se de Moby Dick, um romance de mais de 600 páginas, traduzidos para uma ilha de vertigens no meio do placo.
Acompanhamos em um barcotablado a aventura do capitão Ahab pelos mares do Pacífico-Sul em cima do baleeiro Pequod na caça da baleia cachalote de nome Moby Dick, que havia arrancado uma perna sua, e vivia pelos mares com vários arpões e ferros enterrados em seu corpo.

Essa busca pela baleia é obssessiva, doentia, coloca em risco a vida de todos no navio. A baleia possui um sentido extremamente alegórico na narrativa e vale dizer que provavelmente nem mesmo o Melville sabia dizer o que ela realmente significava. Os quatro atores, Chico Diaz, Isio Ghelman (inúmeras montagens apenas no Tetaro Poeira), Orã Figueiredo e André Mattos (uma grande surpresa) estão excelentes, viscerais mesmo. Mas quem me surpreendeu mesmo foi o Chico Diaz, que faz o capitão Ahab e também outros personagens. O corpo do ator se contorce, gira, grita, se transforma em baleia. Empreendimento audaz do sempre audaz do diretor Aderbal Freire-Filho, que nos diz no prospecto que a peça não é uma adaptação do romance, que levaria dias, mas um "retrato 3x4 da baleia".

Muito bom dizer também que a peça prima pelo texto. Somos colocados diante de um dos maiores textos da Weltliteratur, considerados por muitos a maior obraprima norte-americana. Deixo a palavra com Borges: "Página a página, o relato se agiganta até superar o tamanho do cosmos: a princípio o leitor pode supor que seu tema é a vida miserável dos arpoadores de baleias; em seguida, que o tema é a loucura do capitão Ahab, ávido por acossar e destruir a Baleia Branca; depois, que a Baleia e Ahab e a perseguição que esgota os oceanos do planeta são símbolos e espelhos do Universo." Não temos apenas na nossa frente a adaptação de um relato de aventuras, mas um romance transcedental. Melville julga que todas as coisas do mundo possuem um sentido espiritual.

Parabéns para a direção musical de Tato Taborda, cenário de Fernando Mello da Costa e Rostand Albuquerque e iluminação do Maneco Quinderé. E parabéns para a Marieta Severo e Andréia Beltrão por nos dar esse espaço maravilhoso no Rio que é o Teatro Poeira, espaço de espetáculos sempre primorosos.


Moby Dick
quinta e sexta, 21h, R$40,00
sábado, 21h, R$50,00
domingo, 19h, R$50,00