domingo, 13 de setembro de 2009

Les solitaires intempestifs


"Devemos preservar os espaços da criação, os espaços do luxo do pensamento, os espaços do superficial, os espaços da invenção do que ainda não existe, os espaços da interrogação de ontem, os espaços do questionamento. Eles são nossa bela propriedade, nossas casas, de todos e de cada um. As impressionantes construções de certeza definitiva, não nos faltam, paremos de construí-las. A comemoração também pode ser viva, a lembrança também pode ser feliz ou terrível. Temos o dever de fazer barulho. Nós devemos conservar no centro de nosso mundo o espaço de nossas dúvidas, o espaço de nossa fragilidade, de nossas dificuldades em dizer e em ouvir. Devemos ficar hesitantes, e resistir assim na indecisão aos discusos violentos ou amáveis dos indiscutíveias profissionais de lógicas econômicas, os conselheiros pagantes, utilitários imediatos, os hábeis e os espertos, nossos consensuais senhores..."


Do luxo e da impotência _ Jean-Luc Lagarce

sábado, 12 de setembro de 2009

FIK A DIK


Literatura
49 contos de Tennessee Williams
Companhia das Letras








Teatro
Sonho de Outono, texto de Jon Fosse
Centro Cultural dos Correios
de quinta a domingo, 19h
R$ 15,00 (com meia entrada)








Cinema
Lugares Comuns
direção de Adolfo Aristarain








Música
Little dragon
Álbum: Machine Dreams
Selo Love-Da-Records






















Cineclube Cinética

Dia 13 de Setembro, domingo, marcará a estréia da Sessão Cinética. Uma vez ao mês, a Cinética levará dois filmes à tela do cinema do Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro, abrindo mais um espaço de reflexão e apreciação de filmes fora do circuito exibidor tradicional. As sessões são duplas e começam às 16hs, e a curadoria tem a intenção de programar obras importantes de circulação restrita nas salas brasileiras, respeitando ao máximo as características originais de projeção de cada filme. Além disso, críticos da revista produzirão textos especiais para as sessões – que serão distribuídos no local, e publicados posteriormente aqui – e mediarão um debate após a exibição do segundo filme da noite.
Para a sessão de inauguração, a Cinética programou os filmes Ninotchka, de Ernst Lubitsch; e Ondas do Destino, de Lars Von Trier. Ambos os filmes serão exibidos em cópias 35mm, nas janelas corretas de exibição, com legendas em português. A sessão de Ninotchka custará R$10,00 (R$5,00 a meia-entrada) e a de Ondas do Destino terá entrada gratuita. Estão todos convidados. A próxima sessão será dia 11 de Outubro, e os filmes serão anunciados em breve.

Sessão Cinética -
Domingo, 13/09
16hs
Ninotchka, de Ernst Lubitsch (EUA, 1939),
110 minutos

18hs
Ondas do Destino (Breaking the Waves), de Lars Von Trier (Dinamarca, 1996),
159 minutos.

Instituto Moreira Salles
Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea
cep: 22451-040.
Rio de Janeiro - rj
Tel.: (21) 3284-7400;
Fax: (21) 2239-5559
www.ims.com.br
Ambiente WiFi
Acesso a portadores de necessidades especiais
Estacionamento gratuito no local
Capacidade da sala: 113 lugares

Fonte: www.revistacinetica.com.br

Prenez soin de vous


Eu pensava que o orkut e o facebook (deixo para o segundo plano o renegado twitter) fossem o máximo que a doce loucura humana pudesse engendrar para expor nossas intimidades, mas em tempos de casas de vidro, ainda me surpreendo com certas coisas que tenho descoberto. Trocando em miúdos...

Vi recentemente em São Paulo a tão esperada (ao menos por mim) exposição "Cuide de você", da artista plástica, videomaker, lunática Sophie Calle. Esta moça é aquela que na última FLIP quebrou o pau da forma mais sofisticada possível com o ex-namorado, o escritor Gregoire Bouillier, lavando a roupa suja do relacionamento que eles tiveram há alguns anos atrás.

E pelo visto esse namoro mal sucedido ainda vai dar muito pano pra manga, pois, apenas relembrando, o livro mais recente do moço se chama "O convidado surpresa", que relata como ele conheceu Sophie e também todo o dramalhão que ele estava vivendo com o rompimento do relacionamento anterior ao que teve com Calle.

Traduzindo mais uma vez...

O sujeito (sujeitinho) terminou o namoro mandando apenas um email, que pelo que parece, deve ter deixado Sophie estarrecida. Há algum tempo venho querendo lhe escrever e responder ao seu último email. Ao mesmo tempo, me pareceria melhor conversar com você e dizer o que tenho a dizer de viva voz. Mas pelo menos será por escrito (...) Aconteça o que acontecer, saiba que nunca deixarei de amar você da maneira que sempre amei desde que nos conhecemos, e esse amor se estenderá em mim e , tenho certeza, jamais morrerá. Mas hoje, seria a pior das farsas manter uma situação que você sabe tão bem quanto eu ter se tornado irremediável, mesmo com todo o amor que sentimos um pelo outro. E é justamente esse amor que obriga a ser honesto com você mais uma vez, como última prova do que houve entre nós e que permancerá único. Gostaria que as coisas tivessem tomado um rumo diferente. Cuide de você.

Sophie então convidou diversas profissionais de várias áreas para "interpretar" este email. Foram atrizes (Jeanne Moreau, Victoria Abril, Maria de Medeiros), cantoras (Feist, Peaches, Miss Kittin), tradutoras, escritoras, uma especialista em direitos da mulher da ONU, uma delegada de polícia, uma criminologista, uma pesquisadora de lexicometria, uma consultora de etiqueta, designers, uma intérprete do Talmude (pasmem!), uma tradutora de linguagem SMS (pasmem! [2]) entre tantas outras mulheres. Não preciso dizer que os resultados das interpretações foram os mais loucos possíveis.

O que eu mais gostei foi o de uma cantora de ópera que não lembro o nome. Ela transformou a carta em música erudita e foi cantando na frente de um cenário extremamente kitsch, dando um significado totalmente controverso à carta de rompimento.

Agora eu me recordo de já ter visto uma obra dessa artista no Oi Futuro chamada "No sex last night", na qual ela convida o então namorado, Greg Shephard, a viajar de carro de Nova Iorque à Califórnia e fazer um filme. Eles usam duas câmeras separadas e nos mostram ao fim "tudo o que eram incapazes de dizer um ao outro".

Pesquisando mais sobre ela também descubro que a moça é conhecida no mundo da arte por ter uma obra que despreza as fronteiras entre ficção e realidade e essencialmente literárias. O que diferencia muitos de meus trabalhos é o fato de que eles são, também, minha vida. Eles aconteceram. Isso me distingue e faz com que as pessoas gostem ou desgostem intensamente do que faço. É por isso, também, que tenho um público além do mundo da arte. Ela fas parte de um grupo de artistas que os teóricos tem fetichizado por criarem obras de "ficção biográficas" ou "autoficção". Conceitos fluidos à parte, Sophie acaba nos mostrando, através de uma obra tão "voyeurística de si mesma" e com diálogo intenso com o público, as complexas maquinações do desejo.