sábado, 12 de setembro de 2009

Prenez soin de vous


Eu pensava que o orkut e o facebook (deixo para o segundo plano o renegado twitter) fossem o máximo que a doce loucura humana pudesse engendrar para expor nossas intimidades, mas em tempos de casas de vidro, ainda me surpreendo com certas coisas que tenho descoberto. Trocando em miúdos...

Vi recentemente em São Paulo a tão esperada (ao menos por mim) exposição "Cuide de você", da artista plástica, videomaker, lunática Sophie Calle. Esta moça é aquela que na última FLIP quebrou o pau da forma mais sofisticada possível com o ex-namorado, o escritor Gregoire Bouillier, lavando a roupa suja do relacionamento que eles tiveram há alguns anos atrás.

E pelo visto esse namoro mal sucedido ainda vai dar muito pano pra manga, pois, apenas relembrando, o livro mais recente do moço se chama "O convidado surpresa", que relata como ele conheceu Sophie e também todo o dramalhão que ele estava vivendo com o rompimento do relacionamento anterior ao que teve com Calle.

Traduzindo mais uma vez...

O sujeito (sujeitinho) terminou o namoro mandando apenas um email, que pelo que parece, deve ter deixado Sophie estarrecida. Há algum tempo venho querendo lhe escrever e responder ao seu último email. Ao mesmo tempo, me pareceria melhor conversar com você e dizer o que tenho a dizer de viva voz. Mas pelo menos será por escrito (...) Aconteça o que acontecer, saiba que nunca deixarei de amar você da maneira que sempre amei desde que nos conhecemos, e esse amor se estenderá em mim e , tenho certeza, jamais morrerá. Mas hoje, seria a pior das farsas manter uma situação que você sabe tão bem quanto eu ter se tornado irremediável, mesmo com todo o amor que sentimos um pelo outro. E é justamente esse amor que obriga a ser honesto com você mais uma vez, como última prova do que houve entre nós e que permancerá único. Gostaria que as coisas tivessem tomado um rumo diferente. Cuide de você.

Sophie então convidou diversas profissionais de várias áreas para "interpretar" este email. Foram atrizes (Jeanne Moreau, Victoria Abril, Maria de Medeiros), cantoras (Feist, Peaches, Miss Kittin), tradutoras, escritoras, uma especialista em direitos da mulher da ONU, uma delegada de polícia, uma criminologista, uma pesquisadora de lexicometria, uma consultora de etiqueta, designers, uma intérprete do Talmude (pasmem!), uma tradutora de linguagem SMS (pasmem! [2]) entre tantas outras mulheres. Não preciso dizer que os resultados das interpretações foram os mais loucos possíveis.

O que eu mais gostei foi o de uma cantora de ópera que não lembro o nome. Ela transformou a carta em música erudita e foi cantando na frente de um cenário extremamente kitsch, dando um significado totalmente controverso à carta de rompimento.

Agora eu me recordo de já ter visto uma obra dessa artista no Oi Futuro chamada "No sex last night", na qual ela convida o então namorado, Greg Shephard, a viajar de carro de Nova Iorque à Califórnia e fazer um filme. Eles usam duas câmeras separadas e nos mostram ao fim "tudo o que eram incapazes de dizer um ao outro".

Pesquisando mais sobre ela também descubro que a moça é conhecida no mundo da arte por ter uma obra que despreza as fronteiras entre ficção e realidade e essencialmente literárias. O que diferencia muitos de meus trabalhos é o fato de que eles são, também, minha vida. Eles aconteceram. Isso me distingue e faz com que as pessoas gostem ou desgostem intensamente do que faço. É por isso, também, que tenho um público além do mundo da arte. Ela fas parte de um grupo de artistas que os teóricos tem fetichizado por criarem obras de "ficção biográficas" ou "autoficção". Conceitos fluidos à parte, Sophie acaba nos mostrando, através de uma obra tão "voyeurística de si mesma" e com diálogo intenso com o público, as complexas maquinações do desejo.

Um comentário:

  1. Vc já sabe que eu amei né?!? Ontem quando voltamos pra casa (cada um pra sua, que fique bem claro) comentando sobre a exposição eu fiquei deslumbrada com essa idéia. Absolutamente fantástica a idéia de transformar em arte nossa "casa de vidro". Fiquei seca de vontade de ir a exposição... Pena que não vem pro Rio (vai entender)...
    Beijão meu querido
    Fer

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