segunda-feira, 6 de junho de 2011

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Já faz dois anos que vovó veio morar comigo no apartamento que ficou pra mim e eu acho que não consigo mais me imaginar sem a velha do meu lado. Ela tem 76 anos e ainda tem bastante gás, gosta de viver, não é de se entregar. Às vezes eu fico pensando nela, nessa barra toda que ela sempre passou e fica difícil acreditar que todo mundo saiu dela. Se bem que até que meus dois tios são bem equilibrados, tem pé no chão, não gastam muito e ajudam as esposas no que podem (eu não tenho muito contato com elas, não sei, não me simpatizo muito). Todo domingo eles vem aqui e a levam pra comer fora. Logo vovó, que adora um franguinho. Fica toda feliz, se entope do perfume que eu dei no dia das mães e sempre arranja uma bolsa nova pra usar (aqui, na saída do prédio, um coroa vende umas bolsas de correntinha, de todas as cores possíveis, metade do dinheiro dela vai nas bolsas todo santo mês). Passo, então, meus domingos corrigindo os deveres de casa dos meus alunos ou me forçando a dormir. Me alivia saber que ela tem carinho dos filhos, essa coisa de cuidado mesmo, de chegar numa etapa da vida e... Mesmo assim, ela sempre volta cabisbaixa, dando muxoxos pelos cantos e fica vendo tevê sentada de banda, olhando pela janela. Nem mesmo tira a roupa, só deixa a bolsa na cadeira da cozinha e desfaz o rabo de cavalo, já ralo. Nunca perguntei o que a deixa assim, todo santo domingo. Não me intrometo muito porque tenho medo que nossa relação, que é tão delicada e cheia de gentilezas, sofra algum abalo (vovó às vezes mostra, sem que a gente peça, que tem o sangue da família). Nem sei o que me acontece se ela se for.

sábado, 21 de maio de 2011

as primeiras enchentes



foi paixão fulminante a primeiro vento de frio. eu queria tocá-lo, abraçá-lo com força, respirá-lo. de todas as vias ele me chegava em impacto, sem espaços, sem sobras. era presença constante, água no corpo, razão a mais, de todo. sempre que chegava eu levantava uma persiana com dedo e o fitava desiludidamente, a passos lentos e decididos. ele (eu absorvendo tudo) era homem de bocas abertas, de tardes, de escapadas da vida aturdida que eu criei para mim e insistia em levar lá nos tempos idos de 1987.




(fotografia do artista norte-americano Fazal Sheikh)







sexta-feira, 20 de maio de 2011

não posso mais me referir aos outros nem me dirigir a eles todos já que tudo é sempre uma penúria doída doída valei-me meu bom deus uma vontade de passar no mercado e comprar logo um quilo de café daquele que lançaram mês passado Com açúcar ou adoçante? Minha filha prefere com adoçante vive dizendo que é gorda gorda gorda grande quem sabe passo em casa e vejo as roupas que ela precisa para o retiro A casa anda tão mão cuidada Precisa de tinta em cada parede valei-me meu bom deus todos os funcionários passam aqui na cozinha e pedem o café quentinho preciso fazer sempre a cada duas horas logo eu que nem bebo café direito Gosto de um dedinho de leite quente e pode ser em pó mas aí é só uma colher mas da colher grande valei-me meu bom deus A Janice do setor das roupas certinhas andam todos sempre de preto vive bebendo é outra que se acha gorda e pede café descafeinado enquanto toca a mesma música para dançar no computador dela mas acho que tem um outro senhor que usa o computador valei-me meu bom deus ela me disse que se pode achar várias fotos da lídia brondi na internet é tanta coisa que se pode como esse tempo anda rápido

sexta-feira, 29 de abril de 2011

nöntanto

de todas as ruas que cirdundam a tua
casa
correm garotos festeiros alegres com a tua
vinda
no entanto nem eu nem ninguém falamos a tua
língua
logo
danço e dançam ao teu redor sem jamais te
tocar
e passas apartada

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

pertenço ao grupo dos homens
que cheiram verdades sempre de banda
dentro desse grupo há os que as apalpam
incrementam
chupam
descongelam
mas todos erguem flores para a palavra tua

e fecham a porta deixando ar fresco entrar

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

ele
de quem
todos
falam
passa
ligeiro
e
se
aguenta
firme
feito
rocha
(não sei)
olhando
pra
cima
e cuspindo
sangue
até
a beirada
da minha
cama