quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

ele
de quem
todos
falam
passa
ligeiro
e
se
aguenta
firme
feito
rocha
(não sei)
olhando
pra
cima
e cuspindo
sangue
até
a beirada
da minha
cama

é né

sinto um arrependimento profundo
de não ter dado as costas aos meus boleros

sábado, 11 de dezembro de 2010

um sorriso mal dado aberto errado como quem não abre a boca querendo sorrir e sorri com a memória de toda uma vida vivida de banda todos esses anos colocando o ombro na frente antes de entrar com corpo todo numa sala levando muito tempo para deixar o resto entrar

a boca involuntária com todas as ruguinhas de canto abre fecha delicadamente e vocifera com calma gotinhas de cuspe cheiro forte de comida e resto

sopradas suaves (nem tão leves assim) no pescoço de quem teima em ficar na frente

e a boca sorriso não fecha nunca

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

sobedesce


todo dia na praça da rua debaixo ela aparecia com as duas tias solteironas de guarda olho bem aberto que menina na sua idade levanta os olhos desses velhos sem vergonha cheios de cachaça é o mal desse lugar todos eles ficam assim depois que se aposentam se lembra do osmar acabou com a família toda e eu de longe ensaiando vagar espaço na gangorra do meio pra subir e descer com ela bem devagarzinho sempre fui muito alto meus pés tocam no chão de areia comigo no meio do êxtase do alto ela com as pernas esticadas quase até o eixo do brinquedo só segurando sem muita firmeza a alça enferrujada e as tias gritando sai dessa gangorra que se você se machuca é todo mundo correndo pro posto injeção de tétano é cara menina elas não devem ter a mínima noção do que é falta de injeção quando o ser humano mais precisa de uma bem no meio do cu depois de ver os caras que a gente passa meses juntos revezando lugar pra dormir falando sonhando querendo com toda a urgência do mundo ver logo a menina da praça a mulher com o filho que eu nunca viu só eu falei que você ia se machucar menina ainda bem que não feriu com força vem cá muleque quantos anos você tem vou fazer dezoito dia dezenove é eu vi que você já é bem grandinho sim mas nem barba na merda dacara você tem mas eu tenho cabelo em cima do pau suas velhas escrotas gordas e mal comidas mas não podia falar essa besteira pensei até que a menina tivesse ouvido fez cara de surpresa daquelas ruins que pegam a gente sem jeito como o ataque bem no meio da madrugada alta é tanto barulho que começa de longe e fica alto demais ziiiuuummm paaaaaaaaa eu vejo hoje depois de tantos anos a morte vir fazer carinho em mim na menina e naquelas duas tias inconvenientes que devem estar lutando no inferno pra saber quem vai ficar com a gangorra do meio, devidamente enferrujada