quarta-feira, 28 de julho de 2010

petit bonheur #2

Oi, quanto tempo, nem tinha te visto por aí, sentadinha.

...Triste né? Olha só.

Nem me fala. Nem acreditei quando a Soninha me falou, ontem.

Daqui a pouco é... Melhor deixar pra lá. Como é que tá sua mãe? Eu falei com ela semana passada, por telefone, ela me pareceu tão triste. Ainda tá com aquele problemão todo lá na justiça?

Ela tá bem sim, mas meu irmão tá cuidando de tudo bem, acho que até final do mês que vem, é, se não me engano foi esse o prazo que meu irmão deu, a gente já tem uma resposta do juiz.


Vamos ver no que isso tudo vai dar.

Fala pra ela que vai dar tudo certo, que ela não precisa se preocupar, que Deus se ocupa de tudo, sabe, quando a gente menos espera, ele vem com uma solução pronta, daquelas que a gente menos espera. Sempre foi assim, ele sempre ajudou tanto ela, não vai ser dessa vez que ele vai falhar.

É.

E a Rita tá voltando de vez, semana que vem.

Sério?

Sim, sim. Não tem mais razão pra ela ficar em Vassouras, ela tá muito nova pra ficar socada naquele lugar. Ano passado fui lá, você precisava ver. Eu, que já sou uma mulher velha e não me choco nem me empolgo mais com muita coisa, fiquei muito entediada. Entediada mesmo, sabe? Tinha vezes que nem o rádio pegava direito. Tenho paciência pra isso não. Ainda mais eu, que gosto de ver gente passando pra lá e pra cá, você veja só. Não consegui ficar mui...

Mas ela vai morar na casa de quem?

Ela quem?

A Rita.

A, a Rita, claro. Olha, boa pergunta. Não sei mesmo te dizer. Quem me falou que ela tava voltando foi aquele menino, como é mesmo o nome dele? O...

Você diz aquele menino que fez um filho nela?

É. Esqueci o nome do rap...

Mateus. Não me esqueço nunca.

Mateus! Isso mesmo! Mateus. Então, foi ele que me falou. Acho que ele não deve saber mais coisas não, duvido muito que a Rita queira olhar pra cara dele depois de tanta confusão. Só se ela for dessas mulheres fracas que andam por aí. Mas a Rita, tenho certeza que ela não quer mais saber do Mateus.

É, espero.

Ela nunca mais falou com você?

Nunca mais.

Nunca ligou, nem mandou recado?

Nunca.

Esses anos todos? Puxa, e como é que você tá com isso tudo, meu filho? Quer dizer, eu disse como quem não queria nada sobre a volta dela. Não sabia que ela tinha te esquecido assim tão fácil. Olha, bola pra frente viu, vocês jovens sabem tocar pra frente melhor do que a gente, que não tem mais frente pra olhar. Você, ela, o Mateus, são todos muito novinhos. Você sabe que tem tanta garota bonita por aí querendo ficar com você. Você fez aniversário mês passado não foi? Quantos anos você fez mesmo?

Trinta e um, tia.

Então! Os anos demoram a passar pra vocês, vocês vivem mais do que a gente. E eu digo agora a mesma coisa que eu disse pra sua mãe: Deus sempre tem uma coisa guardada que a gente nem desconfia, nem sonha em ver, mas que aparece logo logo. Confia nisso.

É.

Meu santo Deus, olha quem vem ali! Parece até piada né? Não é que a danada já estava voltando?

Ela tá tão mudada...

É, meu filho, ela não mudou nadinha de nada, você é que se desacostumou a vê-la.

Pode ser...

Deixa a poeira toda baixar, a Glória nem esfriou no caixão ainda. Espera uma semana e vai falar com ela. Deixa com sua tia que eu descubro onde ela está enfiada. Só não vai fazer besteira de novo, pelo amor do nosso senhor Jesus Cristo.

Pode deixar tia, vou lá fora comprar uma coca. Você quer uma também?

Tá tudo bem comigo, fique tranquilo. Nós não sentimos tanta sede como vocês sentem.




(outra foto da série "Antropologia da Face Gloriosa", de Arthur Omar)

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