quinta-feira, 22 de julho de 2010

amputações #2


A senhora Grubach nunca mais pôde recuperar-se do achincalhe sofrido na rua da Aparição, local onde morava há mais de duas décadas seu marido não suportaria tamanha afronta deus às vezes sabe o que faz levando os iníquos para perto dele mais cedo do que esperamos a senhora Grubach não podia imaginar que sua agulha de costura a colocaria em um mundo estranho de devaneios nunca experimentados noites longas no balançar gostoso da cadeira do cômodo de trás e gritinhos fundos mudos na véspera dos nasceres do sol. O procurador de seu marido não desistia de ir lá constantemente a casinha do interior talvez dessa à velha senhora um gosto a mais em estar viva e ela nunca fora dada a assinaturas e tempos altos lendo papéis na luz do abajur da sala e enquanto o procurador esperava a senhora Grubach achar a agulha no chão antigo de linóleo marromescuro, sua corpulência danada trouxe realívios bons dourados ziguezagueantes. Foram dias de modorra boa vermelha a tarde reconfortante do exílio de meses com as mãos de mulher ossuda transmutando-se nas pistas naturais da entrega da carne aos sobressaltos do amor tardio.
(still de "Hanami - Cerejeiras em flor", de Doris Dörrie)

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