quinta-feira, 26 de maio de 2011

Já faz dois anos que vovó veio morar comigo no apartamento que ficou pra mim e eu acho que não consigo mais me imaginar sem a velha do meu lado. Ela tem 76 anos e ainda tem bastante gás, gosta de viver, não é de se entregar. Às vezes eu fico pensando nela, nessa barra toda que ela sempre passou e fica difícil acreditar que todo mundo saiu dela. Se bem que até que meus dois tios são bem equilibrados, tem pé no chão, não gastam muito e ajudam as esposas no que podem (eu não tenho muito contato com elas, não sei, não me simpatizo muito). Todo domingo eles vem aqui e a levam pra comer fora. Logo vovó, que adora um franguinho. Fica toda feliz, se entope do perfume que eu dei no dia das mães e sempre arranja uma bolsa nova pra usar (aqui, na saída do prédio, um coroa vende umas bolsas de correntinha, de todas as cores possíveis, metade do dinheiro dela vai nas bolsas todo santo mês). Passo, então, meus domingos corrigindo os deveres de casa dos meus alunos ou me forçando a dormir. Me alivia saber que ela tem carinho dos filhos, essa coisa de cuidado mesmo, de chegar numa etapa da vida e... Mesmo assim, ela sempre volta cabisbaixa, dando muxoxos pelos cantos e fica vendo tevê sentada de banda, olhando pela janela. Nem mesmo tira a roupa, só deixa a bolsa na cadeira da cozinha e desfaz o rabo de cavalo, já ralo. Nunca perguntei o que a deixa assim, todo santo domingo. Não me intrometo muito porque tenho medo que nossa relação, que é tão delicada e cheia de gentilezas, sofra algum abalo (vovó às vezes mostra, sem que a gente peça, que tem o sangue da família). Nem sei o que me acontece se ela se for.

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