segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Inferno Provisório

Há uns dois anos atrás eu me deparei numa livraria qualquer com um livro chamado "Mamma, son tanto felice" e o que estava escrito na contracapa me fez levar o livro para casa: "Um mergulho num poço de águas profundas ... pode trazer à tona o barro decantado no fundo." Mal sabia eu que acabava de travar meu primeiro contato com o grandioso universo literário do escritor mineiro Luiz Ruffato, autor do romance aclamado pela crítica "Eles eram tantos cavalos."
Pesquisando um pouco mais na época, vi que ele tinha um projeto grandioso na cabeça, cujo título é "Inferno Provisório", título retirado de um poema de Murilo Mendes. Trata-se de uma pentalogia, ainda não finalizada, na qual Ruffato pretende falar da história brasileira dos últimos 50 anos a partir do ponto de vista da classe proletária interiorana. São histórias profundamente marcadas por violência e muita "vida sendo vivida". Seus personagens passam por essas vidas medíocres ou em certo ponto decidem dar um basta e partem para os grandes centros urbanos em busca de trabalho ou de um diferencial qualquer.
O primeiro livro deste projeto é justamente o que eu citei no início do texto. Ele é composto por uma dezena de contos que de certa forma podem ser costurados. Trata-se de um livro retalhado, em que cada pedaço constitui uma parte de um painel bem mais amplo. Esta desestruturação da ideia que temos a princípio do que seria um romance, aliado às experimentações tipográficas da escrita de Ruffato, deixam nós leitores sem um lugar de conforto, a linguagem não nos consola. Os textos são cheios de vozes díspares, fluxos de consciência que em um primeiro momento parecem nos indicar algo relevante sobre as vidas que acompanhamos "passivamente", mas o que nos resta no final é apenas solidão. A deles e a nossa, que teima em ficar face a face conosco. Os deslocamentos por vezes constantes de tais personagens não os deixam encontrar a si mesmos, apenas constroem mais e mais biombos que os separam de si e do mundo que os rodeia.
Luiz Ruffato é um escritor com o qual pretendo trabalhar mais a fundo em algum momento. Encontro-me agora envolto pelo universo de "O mundo inimigo", segundo livro da série.

A lusta dos livros publicados até então:
1.Mamma, son tanto felice (2005)
2. O mundo inimigo (2005)
3. Vista parcial da noite (2006)
4. O livro das impossibilidades (2008)

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