sábado, 8 de agosto de 2009

Moby Dick


Depois do lançamento da edição definitiva do romance monumental do escritor norte-americano Herman Melville, estreia nos palcos cariocas uma belíssima montagem do diretor Aderbal Freire-Filho do texto que mistura meditação filosófica, tratado científico, história da arte, tragédia shakesperiana e narrativa de viagens. Trata-se de Moby Dick, um romance de mais de 600 páginas, traduzidos para uma ilha de vertigens no meio do placo.
Acompanhamos em um barcotablado a aventura do capitão Ahab pelos mares do Pacífico-Sul em cima do baleeiro Pequod na caça da baleia cachalote de nome Moby Dick, que havia arrancado uma perna sua, e vivia pelos mares com vários arpões e ferros enterrados em seu corpo.

Essa busca pela baleia é obssessiva, doentia, coloca em risco a vida de todos no navio. A baleia possui um sentido extremamente alegórico na narrativa e vale dizer que provavelmente nem mesmo o Melville sabia dizer o que ela realmente significava. Os quatro atores, Chico Diaz, Isio Ghelman (inúmeras montagens apenas no Tetaro Poeira), Orã Figueiredo e André Mattos (uma grande surpresa) estão excelentes, viscerais mesmo. Mas quem me surpreendeu mesmo foi o Chico Diaz, que faz o capitão Ahab e também outros personagens. O corpo do ator se contorce, gira, grita, se transforma em baleia. Empreendimento audaz do sempre audaz do diretor Aderbal Freire-Filho, que nos diz no prospecto que a peça não é uma adaptação do romance, que levaria dias, mas um "retrato 3x4 da baleia".

Muito bom dizer também que a peça prima pelo texto. Somos colocados diante de um dos maiores textos da Weltliteratur, considerados por muitos a maior obraprima norte-americana. Deixo a palavra com Borges: "Página a página, o relato se agiganta até superar o tamanho do cosmos: a princípio o leitor pode supor que seu tema é a vida miserável dos arpoadores de baleias; em seguida, que o tema é a loucura do capitão Ahab, ávido por acossar e destruir a Baleia Branca; depois, que a Baleia e Ahab e a perseguição que esgota os oceanos do planeta são símbolos e espelhos do Universo." Não temos apenas na nossa frente a adaptação de um relato de aventuras, mas um romance transcedental. Melville julga que todas as coisas do mundo possuem um sentido espiritual.

Parabéns para a direção musical de Tato Taborda, cenário de Fernando Mello da Costa e Rostand Albuquerque e iluminação do Maneco Quinderé. E parabéns para a Marieta Severo e Andréia Beltrão por nos dar esse espaço maravilhoso no Rio que é o Teatro Poeira, espaço de espetáculos sempre primorosos.


Moby Dick
quinta e sexta, 21h, R$40,00
sábado, 21h, R$50,00
domingo, 19h, R$50,00





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