sábado, 27 de junho de 2009

Simone Weil - do amor


"L’esprit n’est forcé de croire à l’existence de rien (subjectivisme, idéalisme absolu, solipsisme, scepticisme : voir les Upanishads, les Taoïstes et Platon, qui, tous, usent de cette attitude philosophique à titre de purification). C’est pourquoi le seul organe de contact avec l’existence est l’acceptation, l’amour. C’est pourquoi beauté et réalité sont identiques. C’est pourquoi la joie et le sentiment de réalité sont identiques."


"Amour de la vérité est une expression impropre. La vérité n’est pas un objet d’amour. Elle n’est pas un objet. Ce qu’on aime, c’est quelque chose qui existe, que l’on pense, et qui par là peut être occasion de vérité ou d’erreur. Une vérité est toujours la vérité de quelque chose. La vérité est l’éclat de la réalité. L’objet d’amour n’est pas la vérité, mais la réalité. Désirer la vérité, c’est désirer un contact avec une réalité, c’est l’aimer. On ne désire la vérité que pour aimer dans la vérité. On désire connaître la vérité de ce qu’on aime. Au lieu de parler d’amour de la vérité, il vaut mieux parler d’un esprit de vérité dans l’amour.L’amour réel et pur désire toujours avant tout demeurer tout entier dans la vérité, quelle qu’elle puisse être, inconditionnellement.Toute autre espère d’amour désire avant tout des satisfactions, et de ce fait est principe d’erreur et de mensonge. L’amour réel et pur est par lui-même esprit de vérité. C’est le Saint-Esprit. Le mot grec qu’on traduit par esprit signifie littéralement souffle igné, souffle mélangé à du feu, et il désignait, dans l’antiquité, la notion que la science désigne aujourd’hui par le mot d’énergie. Ce que nous traduisons ‘esprit de vérité’ signifie l’énergie de la vérité, la vérité comme force agissante. L’amour pur est cette force agissante, l’amour qui ne veut à aucun prix, en aucun cas, ni du mensonge ni de l’erreur. "

Uwe Loesch : Der Ort, die Zeit und der Punkt




Pôsteres do maior designer alemão vivo.


sexta-feira, 26 de junho de 2009

Ética

No escritório não havia mais ninguém. À essas horas da noite é difícil encontrar uma viv'alma sequer em todo este edifício. Sei que o centro da cidade fica mais escuro do que já é e não é mesmo seguro ficar por aqui, sendo obrigado a caminhar por essas ruelas sombrias, de chão sempre molhado, até o estacionamento onde todos daqui costumam guardar seus carros. Mas resolvi ficar. Estava cheio de verificações finais a fazer e a segunda-feira não poderia começar com um esporro do Antônio. Só a sombra dele ou então o menor barulho de seus passos já era suficiente para me paralisar. O mais engraçado é que o sujeito sempre foi muito gentil com todos, para não dizer servil, resultado de um espírito costumeiramente antenado com as mais novas prescrições sobre ética no trabalho e em como fazer com que seu modo de tratar bem as pessoas as ajude a serem mais produtivas.
Mas a Clara não me deixava trabalhar em paz. Minha concentração era perdida a cada segundo que eu colocava os olhos sobre aquele retrato ao lado do porta-lápis e nenhuma força vigente no universo me faria esticar as mãos para abaixá-lo ou guardá-lo na gaveta de "material pessoal". Ela nunca mais ia voltar, esta era a única certeza que possuía, não havendo nem filho, nem carreira, nem família, nem doença que a fizesse pensar duas vezes e reparar o erro que havia cometido.

O relógio marcava dez horas e vinte e três minutos. Num rompante de um impulso qualquer, guardei todos os papéis na gaveta de "procedimentos arquivados", peguei meu casaco que tinha deixado na cadeira do Lobo (não me lembro agora porque fiz isto) e saí da sala. Tranquei a porta, dando duas voltas na chave, e desci as escadas que me levavam ao hall do edifício número 14, prédio que trabalho há sete anos.

Arthur Omar










Algumas fotos da série "Antropologia da face gloriosa"





Je veux tout savoir



Lançada pelo selo do Joakim Tigersushi, Alice Daquet aka Sir Alice tem 3 álbuns na bagagem e cada vez mais se enquadra perfeitamente no rótulo de experimental, com seus abstracionismos e "barulhinhos bons". Mas a moça consegue chegar na nossa derme e causar um friozinho a cada ruído de sua música, ou levar ao êxtase com faixas mais, digamos assim, normais. Sem mais delongas, procurem pela mulé aí...

Álbuns pelo Tigersushi

1

?

n.02

(os nomes dos discos são esses mesmos, ok)


À pele da película







Amanhã vai rolar dobradinha Godard na mostra da Caixa Cultural



Alphaville 14h e o fantástico Elogio do amor 17:30.



Ainda escrevo um texto sobre ele. Fiquem com uns stills por enquanto...

In on it


temporada de "In on it" prorrogada até julho.

Fernando Eiras e Emílio de Mello, literalmente in, num texto de Daniel MacIvor (nunca tinha ouvido falar).

dispensa comentários, é daquelas que tem que ir e ponto...

Oi futuro

de sex a dom, 19:30

R$15,00 (venda de ingressos na terça para o fim de semana corrente)

pausa para o lanche da tarde

as pernas do pai, afundado no sofá de dois lugares da sala, só poderiam ser duas hastes negras de metal forte, robustos, gélidos. os pêlos eriçados com a notícia dada pelo noticiário da tevê (pensando bem os pelinhos já estavam em pé desde muito antes) pareciam cerdas de aço, de escova para limar objetos duros, gelados também. os músculos do joelho, que na sua cabeça não deveriam ser muitos, apesar dele ter ficado surpreso quando a cristina disse a quantidade de fibras e qualquer outra coisa feita de carne que a gente mobiliza quando sorrimos, se encontravam retesados ao máximo, como se o pai fosse se levantar de supetão, sem a mãe nem ele esperarem, para derrubar a tevê e maldizer com todos os nomes feios que se encontram em todas as línguas do mundo aquela revelação tão inesperada. ouvia até o barulho da explosão do tubo de raios catódicos e já antecipava o susto e o grito fino que precisaria deixar escapar da sua boca miudinha, que já estava aberta há longos minutos. a mãe aparecia para ele fora de foco, longe, mesmo sentada em outro sofá de dois lugares, desta vez marrom, transversal ao sofá do pai. sofá caro. não sei quantos judeus mortos nos campos de concentração, algo em torno de cem milhões, ou seriam cem bilhões. só podia mesmo ser muita gente, gente que não tinha como pensar, gente que ultrapassava toda a quantidade de pessoas que podiam caber num shopping numa véspera de natal, dia de louco, de gente esquisita e que fica mais esquisita ainda nessa época do ano, coisa fora de compreensão. eram nomes complicados que a moça de tailleur vermelho repetia na tevê. em alguma língua bem diferente daquele inglês que o professor enrugado ensinava no colégio, aquele inglês que por mais que ele não soubesse entender, lhe dava a certeza de que não era inglês nem jamais seria, nem nos estados unidos, nem nos filmes em que se falava inglês. foi só quando seu pai caiu, quase de cara na mesa de centro, meu deus!, quase que ele bate com a cabeça direto na mesa de centro, logo ali, a bem poucos centímetros dele, ia ser uma tragédia, mas ele não ia conseguir segurar a vontade de gargalhar bem alto ao ver aquela cena estapafúrdia do pai, um galalau de quatro metros, desmoronando como um edifício bem em cima da mesa de centro velha da sala. a mãe se levantou, tropeçando também e só sentia o cheiro de batata frita bem gordurosa, pouco úmida que servia de aviso para a hora de jantar.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Cat Power

Show de Cat Power no Brasil, a nova musa do folk americano...
só digo isso!
Rio (HSBC ARENA) e Sampa (Via Funchal)
JULHO!! ingressos entre R$80,00 e R$320,00 no Rio.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Klavdij Sluban







da série Autour de la mer Noir-voyages d'hiver
Klavdij Sluban
arrebatadoras


The whitest boy alive

Não levem a mal a carinha de indie que eles tem, apesar de terem começado como um projeto de música eletrônica e também terem se aproximado um pouco da sonoridade rockzescainfantilóide no primeiro álbum, "Dreams".
No recente "Rules", eles mostram que amadureceram bastante, levando as canções a momentos bem jazzy e com algumas pitadas de afro beat, sem descaracterizar o pop que canta as mazelas do amor com a inconfundível voz de Erlend Øye, que precisa ser enfrentado com courage, aliás, ótimo hit dos rapazes. Paara ouvi-los, cace-os no myspace ou baixe descaradamente...
Fica a dica!
Rules
The whitest boy alive


domingo, 21 de junho de 2009

Quartett


Quartett, texto de Heiner Müller, com Isabelle Huppert
19 de setembro a 2 de outubro no SESC SP e de 23 a 25 de setembro no Teatro do SESI em Porto Alegre (RS)
mais informações em breve

sábado, 20 de junho de 2009

Panorama do cinema francês 2009

Mais um festival de cinema francês começa na nossa querida e adorável cidade, num ano que a França está à la bombée (sic) em terras tupiniquins. Odeon cheio, gente buniii[ad infinitum]ta, francofonia ubíqua, Débora Bloch très chiq, Vincent Cassel parecendo cada vez mais doente, e velhinhos solitários.


O que eu estranhei um pouco foi o fato de terem escolhido um filme que não faz muito jus ao que esperamos do cinema francês.
Trocando em miúdos: O ministério da cultura francês tem uma preocupação excessiva com a difusão no mundo do cinema produzido por aquelas bandas. Existe um órgão chamado Unifrance que além de fomentar a produção das películas, tem como principal função entrar em acordo direto com os distribuidores de cinema no mundo todo e negociar os filmes (ou empurrá-los a precinhos camaradas).

O resultado disso não seria muito diferente. O cinema francês sempre foi muito apreciado por aqui por sua estética diferenciada em relação aos filmes da grande indústria americana. São dramas mais densos (os filmes do Claude Lelouche, Eric Rohmer e uma penca de outros de diretores contemporâneos como Olivier Assayas) , outros filmes são mais politizados ou até mesmo engajados (toda a produção do Godard como líder do grupo Dziga Vertov) e outros mais abertos à experimentações ou se definindo como ensaios visuais (Godard, encore, da década de 90, Cris Marker, Brun Dumont, Claire Denis). Em raríssimos momentos as produções tendem a recorrer aos parâmetros norte-americanos de cinema blockbuster, com explosões e tiroteios o tempo todo. Porém, foi justamente este tipo de filme que escolheram para abrir o Panorama. Mesrine - o inimigo público, primeira parte (Mesrine: l’instinct de mort) é um filme sobre um dos maiores mafiosos da história da França, com direito a fuga da prisão à la Escadinha, quase um mito nacional, considerado inimigo público número 1 na década de 70. Bocas sujas dizem que a organização terrorista OAS, de extrema direita, o ajudava com falsas identidades.



O probleminha todo é o filme. Dividido em duas partes (com um corte, digamos, bem francês, ao fim do filme), o filme se presta a contar a história do dito cujo. Começando com cenas bem realistas da sua participação como soldado na Guerra da Argélia, o filme parece tentar nos dar pistas do processo de transformação do moço em bandido. O moço se sente mal ao ser forçado a matar uma mocinha que gritava desesperadamente em um cativeiro na Argélia (ô dó!), é trapaceado por Guido, chefão da máfia vivido por um dos atores do clã Depardieu e até sai putinho da casa dos pais acusando o pai de ter ficado ao lado dos alemães durante a Resistência. Enfin, o filme nos leva a achar que será interessante, com tanta base para uma análise moral do bandidão, quiçá psicológica. Mas o filme se atropela da metade para o final e nos atropela com tanto sangue, tiro e explosões bem hollywoodianas e perde muito em fluidez narrativa. A atuação do Vincent Cassel é impressionante, isto é fato, e a Cecile de France está bem também. Mas a irritação é tão grande com o rumo que o filme toma que saí decepcionado com o resultado final. Provavelmente a continuação será bem interessante, e não faltarei ao panorama do ano que vem para conferir.

Gostinho de café velho na porta do cinema...

Cindy Sherman - untitled film stills



cinema e "memória fantasmática"



Meu amor


“Isadora chupa o sangue dos pequenos arranhões, suc suc, um leite vermelhinho. Sobe uma vontade de comer, morder e chupar, sente-se muito gostosa, a única coisa que vale a pena ser comida na vida. São pensamentos e sentimentos engraçados, ela ri, mas não pode deixar de acreditar neles. Por exemplo, um desejo de virar árvore e ser capaz de guardar o calor, ou, se isso não for possível, ficar ali encostada na árvore, criando raízes e chupando o seu suor.”




Trecho do conto “Uma história só”, do livro Meu amor, da escritora paulista Beatriz Bracher