sábado, 20 de junho de 2009

Panorama do cinema francês 2009

Mais um festival de cinema francês começa na nossa querida e adorável cidade, num ano que a França está à la bombée (sic) em terras tupiniquins. Odeon cheio, gente buniii[ad infinitum]ta, francofonia ubíqua, Débora Bloch très chiq, Vincent Cassel parecendo cada vez mais doente, e velhinhos solitários.


O que eu estranhei um pouco foi o fato de terem escolhido um filme que não faz muito jus ao que esperamos do cinema francês.
Trocando em miúdos: O ministério da cultura francês tem uma preocupação excessiva com a difusão no mundo do cinema produzido por aquelas bandas. Existe um órgão chamado Unifrance que além de fomentar a produção das películas, tem como principal função entrar em acordo direto com os distribuidores de cinema no mundo todo e negociar os filmes (ou empurrá-los a precinhos camaradas).

O resultado disso não seria muito diferente. O cinema francês sempre foi muito apreciado por aqui por sua estética diferenciada em relação aos filmes da grande indústria americana. São dramas mais densos (os filmes do Claude Lelouche, Eric Rohmer e uma penca de outros de diretores contemporâneos como Olivier Assayas) , outros filmes são mais politizados ou até mesmo engajados (toda a produção do Godard como líder do grupo Dziga Vertov) e outros mais abertos à experimentações ou se definindo como ensaios visuais (Godard, encore, da década de 90, Cris Marker, Brun Dumont, Claire Denis). Em raríssimos momentos as produções tendem a recorrer aos parâmetros norte-americanos de cinema blockbuster, com explosões e tiroteios o tempo todo. Porém, foi justamente este tipo de filme que escolheram para abrir o Panorama. Mesrine - o inimigo público, primeira parte (Mesrine: l’instinct de mort) é um filme sobre um dos maiores mafiosos da história da França, com direito a fuga da prisão à la Escadinha, quase um mito nacional, considerado inimigo público número 1 na década de 70. Bocas sujas dizem que a organização terrorista OAS, de extrema direita, o ajudava com falsas identidades.



O probleminha todo é o filme. Dividido em duas partes (com um corte, digamos, bem francês, ao fim do filme), o filme se presta a contar a história do dito cujo. Começando com cenas bem realistas da sua participação como soldado na Guerra da Argélia, o filme parece tentar nos dar pistas do processo de transformação do moço em bandido. O moço se sente mal ao ser forçado a matar uma mocinha que gritava desesperadamente em um cativeiro na Argélia (ô dó!), é trapaceado por Guido, chefão da máfia vivido por um dos atores do clã Depardieu e até sai putinho da casa dos pais acusando o pai de ter ficado ao lado dos alemães durante a Resistência. Enfin, o filme nos leva a achar que será interessante, com tanta base para uma análise moral do bandidão, quiçá psicológica. Mas o filme se atropela da metade para o final e nos atropela com tanto sangue, tiro e explosões bem hollywoodianas e perde muito em fluidez narrativa. A atuação do Vincent Cassel é impressionante, isto é fato, e a Cecile de France está bem também. Mas a irritação é tão grande com o rumo que o filme toma que saí decepcionado com o resultado final. Provavelmente a continuação será bem interessante, e não faltarei ao panorama do ano que vem para conferir.

Gostinho de café velho na porta do cinema...

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